sexta-feira, junho 24, 2011

Mensagem que urge gritar aos povos

Este não é o único mundo possível

E outro mundo possível está na barriga do actual. Será parido, não por parto normal, mas porque a barriga rebentará - acho eu, é nisso que acredito e é isso que espero.

segunda-feira, junho 20, 2011

Comentário ao discurso do novo Ministro da Educação

O discurso já é bem conhecido e pode ser ouvido AQUI.
Comentei-o na rede Interactic 2.0, pelo que me limito a copiar para aqui esse meu comentário, com alguns pequenos prolongamentos.

-Começando por apontar um ponto positivo: Valorizar os professores. Mas, onde fez Nuno Crato ouvir a sua voz quando, após a LBSE, a formação dos professores de Matemática do Ensino Básico, especialmente do crucial 2º Ciclo(falo desta disciplina porque a lecionei durante 37 anos, primeiro no 2º Ciclo - e ainda no "Ciclo Preparatório" da Reforma Veiga Simão -, depois no 3º Ciclo), baixou muitíssimo de qualidade, juntando a formação científica à formação pedagógica, praticamente eliminando verdadeiros estágios pedagógicos, tudo com a mesma duração que antes tinha a formação científica? E com que força procurou opor-se ao ainda pior Novo Regime de formação de professores, quando do processo de Bolonha? (Não tenho voz pública, mas, no meu humilde blogue, muito denunciei tudo isso)

-"Ensino em espiral":  NC critica, e valoriza conteúdos, mas esquece que, no E. Básico, além de uma boa preparação nos conhecimentos, essencial para os alunos que virão a prosseguir para áreas com Matemática ( e boa preparação a nível de conhecimentos não é simplesmente  decorá-los de modo a não serem esquecidos até realizarem exames), é fundamental criar os hábitos (e o gosto) de raciocinar, de rigor, de pensar criticamente, e proceder desde relativamente cedo à iniciação em CONCEITOS, os quais só ficam elaborados por sucessivas retomas. A matemática do (decorar) "como se faz" em nadinha contribui para a Formação Matemática e desenvolvimento do pensamente rigoroso sem a aquisição de conceitos, e estes só ficam elaborados após o tal "ensino em espiral" (que Nuno Crato de algum modo caricaturiza - talvez se encontre aí a explicação para a falta de rigor de alguns dos seus escritos, nada própria de um matemático)

- Nunca adopto a expressão "Ciências da Educação" (e gosto de ter no meu registo biográfico "mestrado em Educação", pelo Departamento de Educação da FCUL - departamento que é avesso à expressão acima). Mas muito importantes são as Ciências tais como Psicologia Cognitiva, Psicologia da Aprendizagem", etc., do âmbito da investigação científica (essas sim, Ciências), pelas suas aplicações em educação-ensino-aprendizagem. NC tem na sua cabeça um "eduquês" que ridicularizou com bastante ignorância e recurso a método nada próprio de quem deveria ter rigor intelectual, como já disse acima - um "eduquês" completamente irreal nas escolas.
O que não é compatível, é juntar a formação científica sólida (o professor tem que saber bem mais do que o que tem que ensinar a determinadas idades) com essas ciências num curso de formação inicial com a mesma duração que tinha no meu tempo só a licenciatura científica especializada. E os verdadeiros estágios pedagógicos foram tornados caricaturas de estágios por motivos economicistas (pelo menos para lecionar 2º Ciclo, onde tive o que guardo como triste memória quando, uma única vez, aceitei ser professora cooperante - não confundir com professor orientador). NC denuncia o actual regime de formação inicial de professores, relacionado com o Processo de Bolonha, mas não diz que vai ter coragem para o alterar.

- Por último: NC tem-se mostrado assustadoramente retrógado, pois tem insistido na sobreposição dos conteúdos e na memorização, desvalorizando os processos. Além de que mais exames pressionarão os professores para o treino para estes, quando a aprendizagem da Matemática, precisando, claro, também de treino, não chega a ser aprendizagem que dure sem os processos que levam os alunos ao pensar, à compreensão, e ao ganho de autonomia numa relação com gosto e com esforço no prosseguimento do estudo dessa disciplina.

Perdoem-me o pecado de pouca humildade, mas tenho que dizer que tenho autoridade para opinar pois os meus alunos sempre provaram prosseguir bem preparados, e, no respeitante ao 9º ano, quer aqueles a quem atribuí o nível mais elevado (5) mantiveram, na escala de notas do Secundário, a excelência (própria das elites sobre as quais parece predominar o pensamento de NC), quer alunos a quem atribuí aquele nível 3 "baixinho" e prosseguiram para a escolaridade não obrigatória, aguentaram-se muitas vezes até para além das minhas expectativas. (Eu tinha notícias de quase todos porque a Escola Secundária era ao lado da minha E2,3).
Eu seria decerto apelidada por NC de "eduquesa", mas, por minha vez, eu considero-o não "moderno", mas sim com um pensamento extraordinariamente antiquado e voltado para as elites de alunos. Revela-o pouco no vídeo, mas não é pelo vídeo que eu o conheço (que nós o conhecemos).

sábado, junho 18, 2011

Já estava de luto pela Cultura, agora estou de luto pela Educação Escolar

Exceptuando o que toca ao novo Ministro da Educação, não comento o novo elenco ministerial, não só porque cabe pouco no âmbito deste blogue, mas também porque não tenho dados para opinar. Melhor dizendo, as questões ideológicas já estão fora da ordem do dia desde os resultados das eleições, em que, num sistema democrático, o povo é soberano (mesmo que possa mais tarde perceber que foi iludido pelas campanhas que nada esclareceram concretamente). Restam as questões de competência política e técnica para execução do programa imposto externamente, e é sobre essas que não tenho dados. 

Também vou escrever pouco sobre o novo Ministro da Educação porque, embora tenha fundamentos para estar de luto, todos têm o direito de vir a mudar, sobretudo se for por meio (meritório) de estudo que permita colmatar grandes e graves ignorâncias demonstradas fora da sua área de especialidade. Esta hipótese obriga-me a algum benefício da dúvida.

Erigido a comentador, algumas das suas ideias sobre educação-ensino preocupam-me. Mas preocupa-me ainda mais o facto de ter revelado duas facetas num livrinho que escreveu, promovido por largo tempo aos "tops" das livrarias e obtendo grande popularidade:
- Ignorância sobre  verdadeiros conceitos da teoria e da investigação internacional no âmbito da Psicologia Cognitiva, ridicularizando-os por confusão com pseudoconceitos em voga, embora não na comunidade científica.
- Falta de rigor (para não dizer falta de honestidade intelectual) ao ridicularizar, mediante um ou outro exemplo isolado e caricato,  ideias que os professores nunca tiveram, bem como ao ridicularizar o pensamento de figuras prestigiadas no campo da Educação e da Psicologia Educacional através de curtíssimas citações totalmente retiradas do contexto em que se inseriam, deturpando ou omitindo o real pensamento das pessoas citadas.

Eu poderia escrever um muito mais longo texto comprovando o que acabo de dizer, mas dispenso-me de o fazer já que comecei por conceder algum benefício da dúvida. No entanto, como não é bonito (leia-se "honesto") fazer sequer insinuações sem as provar, remeto o leitor para a 1ª Parte de um livro que comprova o que eu disse, embora eu tenha constatado o que disse por discernimento meu baseado em conhecimento  directo antes de ler o livro que cito:
Álvaro Gomes (2006), "Blues pelo Humanismo Educacional?". Eds Flumen.

segunda-feira, junho 13, 2011

Faria anos hoje...


NEVOEIRO

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer -
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fatuo encerra.

Ninguem sabe que coisa quere.
Ninguem conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ancia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro,
Tudo é disperso, nada é inteiro,
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a Hora!

In Mensagem, 10-12-1928

domingo, junho 12, 2011

UBUNTU

UBUNTU
 
A jornalista e filósofa Lia Diskin, no Festival Mundial da Paz, em Floripa (2006), nos presenteou com um caso de uma tribo na África chamada Ubuntu.


Ela  contou que um antropólogo estava estudando os usos e costumes da tribo e, quando  terminou seu trabalho, teve que esperar pelo transporte que o levaria até o aeroporto de volta pra casa. Sobrava muito tempo, mas ele não queria catequizar os membros da tribo; então, propôs uma brincadeira pras crianças, que achou ser inofensiva.

Comprou uma porção de doces e guloseimas na cidade, botou tudo num cesto bem bonito com laço de fita e tudo e colocou debaixo de uma árvore. Aí ele  chamou as crianças e combinou que quando ele dissesse "já!", elas deveriam sair correndo até o cesto, e a que chegasse primeiro ganharia todos os doces que estavam lá dentro.

As crianças se posicionaram na linha demarcatória que ele desenhou no chão e esperaram pelo sinal combinado. Quando ele disse "Já!", instantaneamente todas   as crianças se deram as mãos e saíram correndo em direção à árvore com o cesto. Chegando lá, começaram a distribuir os doces entre si e a comerem felizes.

O antropólogo foi ao encontro delas e perguntou porque elas tinham ido todas juntas se uma só poderia ficar com tudo que havia no cesto e, assim, ganhar muito mais doces.

Elas simplesmente responderam: "Ubuntu, tio. Como uma de nós  poderia ficar feliz se todas as outras estivessem tristes?"
 

Ele ficou desconcertado! Meses e meses trabalhando nisso, estudando a tribo, e ainda  não havia compreendido, de verdade,a essência daquele povo. Ou jamais teria proposto uma competição, certo?

Ubuntu significa: "Sou quem sou, porque somos todos nós!"

Atente para o detalhe: porque SOMOS, não pelo que temos...

sábado, junho 11, 2011

Adequação aos tempos actuais ou acomodação aos tempos desumanos? I

Fui professora no tempo da ditadura. Um ano no ensino nocturno numa escola do Barreiro, com esses maravilhosos operários(as)-estudantes de então, que regressavam do trabalho em Lisboa para irem directamente para as aulas, com uma sanduíche engolida  a correr como jantar. Depois ingressei no então recente "Ensino Preparatório". Tive um director no primeiro caso, a seguir uma directora até ao 25 de Abril de 1974.
Ambos me manifestaram consideração como professora, acho que porque nasci com vocação para o ensino, ou seja, eu tinha algo mais inato do que meritório. Assim, não me incomodaram, muito menos me ameaçaram por as minhas aulas terem sido sempre democráticas.
No entanto, no Ensino Preparatório, o meu método para a aprendizagem da Matemática já foi o que segui  em toda a minha vida profissional, baseado numa estrutura cooperativa de aula, além de que já fazia o que  veio a chamar-se "assembleias de turma", nas quais as alunas participavam activamente, quer sobre o seu trabalho, quer sobre o funcionamento das minhas aulas, e, como directora de turma, sobre o seu trabalho escolar em geral. Por isso, a directora escutava frequentemente à porta da minha sala de aula (só o soube quando do 25 de Abril pelas funcionárias que, antes, tiveram medo de mo dizer).

Um dia, a directora veio ter comigo para me falar sobre as minhas aulas. A fim de me chamar a atenção para que eu não estava a preparar as minhas alunas para a sociedade em que iriam crescer e viver. Não usou a expressão "sociedade não democrática", mas era isso que queria dizer. Claro que não me demoveu e... passado um ano aconteceu Abril (o que ela não previa, e eu não esperava para tão cedo). Afinal, não era verdade que eu não estava a preparar as minhas alunas ao proporcionar-lhes vivências de aprendizagem da democracia.

A ditadura durara 48 anos - eram então os tempos longos "actuais" em Portugal. E mais se prolongariam se não houvesse os homens e mulheres que resistiam, tantos enfrentando a prisão e a tortura, muitos arriscando a própria vida e até perdendo-a mesmo.  Pois, se a Revolução foi feita pelos capitães de Abril, as condições de enfraquecimento e apodrecimento do regime que permitiram o sucesso foram sendo criadas por aqueles outros que nunca se "acomodaram".

(Post a continuar)

quinta-feira, junho 09, 2011

Noite com Maria Bethânia

Tinha bilhete conseguido com antecedência e a minha possibilidade de ir providenciada mas, entretanto, esqueci o bilhete. Lembrei-me a tempo, no próprio dia.   Bethânia é uma das cantoras que me encantam - não em todas as suas canções, mas em muitas.
Não sei se alterou o programa previsto como dedicado a Portugal, mas a primeira parte manteve essa dedicatória.
Foi bom ter-me lembrado do bilhete. Fez-me bem uma noite com a voz de Bethânia.


De Sophia...
(...)
E ao Norte e ao Sul
E ao Leste e ao Poente
Os quatro cavalos do vento
Sacodem as suas crinas

E o espírito do mar pergunta:


«Que é feito daquele
Para quem eu guardava um reino puro
De espaço e de vazio
De ondas brancas e fundas
E de verde frio?»
(...)




De Manuel Alegre...
(...)
     Meu amor é marinheiro
     e mora no alto mar,
     Coração que nasceu livre
     Não se pode acorrentar.


De Pessoa (Álvaro de Campos)...
(...)
       Mas, afinal,
       Só as criaturas que nunca escreveram 
       Cartas de amor 
       É que são
       Ridículas.
(...)

segunda-feira, junho 06, 2011

Imensa tristeza. Mas luto, não!

É fácil iludir um povo assustado quando se faz uma campanha em que são omitidas-escondidas as medidas concretas que vão ter que ser tomadas e, ainda mais, as outras para além das impostas externamente. E são feitas promessas de intenções em abstrato para bem do povo, salientando o povo mais desfavorecido, quando, na realidade, se é por profunda convicção a favor do neoliberalismo extremado, ainda que não convenha dizê-lo.
Como se pudessem renunciar à proteção dos interesses dos grandes grupos económicos e financeiros, cujo apoio é o seu sustentáculo na posse do poder da governação.
Como se fossem capazes ou estivessem dispostos a, por exemplo, compensar o  abaixamento da Taxa  Social Única, imposto no acordo que assinaram, mediante taxação dos escandalosos lucros não taxados, contra o sustentáculo referido acima, evitando assim que seja o povo a compensar, evitando assim mais fome e miséria.

Imensa tristeza por ver o cravo de Abril em perigo de murchar. Mas luto, não, porque o povo pode ter sido iludido, mas o povo português não quer que esse cravo de Abril murche para sempre, e saberá regá-lo pela tomada de consciência que conduz ao NÃO, que conduz à luta que for necessária.

Há sempre os homens e mulheres que lutam... Aqui... na Europa... no Mundo...

Há aqueles que lutam um dia; e por isso são muito bons;
Há aqueles que lutam muitos dias; e por isso são muito bons;
Há aqueles que lutam anos; e são melhores ainda;
Porém há aqueles que lutam toda a vida; esses são os imprescindíveis
.
B. Brecht
 
É preciso saber esperar, sim. Mesmo que a mudança qualitativa aconteça sem que os que lutam toda a vida cheguem a vê-la - mas vêem e vivem os filhos ou netos. E agora a História até "anda" mais depressa.

Para os que não se acomodem: Jamais percam a ESPERANÇA!

sexta-feira, junho 03, 2011

Enquanto candidato a novo 1º Ministro pretende eliminar Ministério da Cultura...

... movimentos de cidadania na Europa manifestam-se contra as ameaças de morte contidas em planos de cortes nos orçamentos da Cultura. E em Portugal? Ficamos (ou continuamos) indiferentes???

(Precisava de mais uns dias para voltar ao meu blogue, mas senti o DEVER de vir, mesmo sabendo que este cantinho é pouco lido)