sábado, fevereiro 28, 2009
Um serão com Maria Bethânia
quarta-feira, fevereiro 25, 2009
Recordando o grande Piaget em duas questões primordiais e tão pouco debatidas
Vou buscar um texto tão antigo porque, ao contrário do que dizem certas vozes - a meu ver ignorantes e ridículas -, o grande Jean Piaget não está ultrapassado, e continua a ser uma enorme referência. Quanto às questões específicas que evoco, uma é a dos métodos de ensino-aprendizagem, e a outra é a da formação dos professores, que, naturalmente, não se pode alhear da primeira.
Eu pertenço a uma geração de professores, especialmente os de Matemática, que muito pugnou pela difusão e aceitação de métodos activos no processo de ensino-aprendizagem. Mas a expressão "métodos activos" tem muitas ambiguidades, quando não chega mesmo a ser caricaturada. E essa geração a que pertenci foi insuficientemente ouvida, e o que tantos desses professores defenderam e praticaram está hoje diluído no tempo, pouco disso parece ter perdurado na memória e na prática de considerável número de docentes.
Quantas e quantas aulas continuam meramente expositivas, mesmo quando sob uma aparência de actividade participativa dos alunos? Quantos e quantos métodos se mantêm anquilosados como quase reproduções dos mesmos que os professores "sofreram" no tempo dos próprios bancos da escola? E até as "novas tecnologias" não são, bastantes vezes, mais do que "enfeites" desses métodos estagnados, com umas vistosas apresentações a substituirem o giz no quadro a fim de prenderem mais a atenção de alunos talvez assim um pouco menos entediados, mas na mesma receptores pouco construtores das aprendizagens.
Volto então a Piaget e dele deixo os pequenos excertos que se seguem, extraídos de um texto especialmente dirigido aos educadores, como acima referi.
Sobre os métodos:
"A primeira dessas condições (o autor refere-se a condições imperativas na iniciação às ciências) é naturalmente o recurso aos métodos activos, conferindo-se especial relevo à pesquisa espontânea da criança ou do adolescente e exigindo-se que toda a verdade a ser adquirida seja reinventada pelo aluno, ou pelo menos reconstruída e não simplesmente transmitida. (...) O que se deseja é que o professor deixe de ser apenas um conferencista e que estimule a pesquisa e o esforço, em vez de se contentar com a transmissão de soluções já prontas. (...) Em resumo, o princípio fundamental dos métodos activos só se pode beneficiar com a História das Ciências e assim pode ser expresso: compreender é inventar, ou reconstruir através da reinvenção, e será preciso curvar-se ante tais necessidades se o que se pretende, para o futuro, é moldar indivíduos capazes de produzir ou de criar, e não apenas de repetir."
Sobre a formação dos professores:
"Restam-nos dois problemas de ordem geral a mencionar. O primeiro relaciona-se com a preparação dos professores, o que constitui realmente a questão primordial de todas as reformas pedagógicas em perspectiva, pois, enquanto a mesma não for resolvida de forma satisfatória, será totalmente inútil organizar belos programas ou construir bela teorias a respeito do que deveria ser realizado. (...)
É preciso ainda insistir num ponto central mas que restringe essencialmente aos níveis secundários e universitários: o aspecto cada vez mais interdisciplinar que assume necessariamente a pesquisa em todos os domínios. Ora, mesmo actualmente os futuros pesquisadores continuam sendo muito mal preparados nesse particular, devido a ensinamentos que visam à especialização e resultam, com efeito, na fragmentação, por não se compreender que todo o aprofundamento especializado leva, pelo contrário, ao encontro de múltiplas interconexões. (...) Do ponto de vista pedagógico estamos pois diante de uma situação muito complexa que comporta um belo programa para o futuro mas actualmente ainda deixa muito a desejar. Com efeito, se toda a gente se põe a falar das exigências interdisciplinares, a inércia das situações adquiridas - isto é, passadas mas ainda não ultrapassadas - tende à realização de uma simples multidisciplinaridade; trata-se, pelo contrário, de multiplicar os ensinamentos, de tal forma que cada especialidade venha a ser, ela própria, abordada dentro de um espírito permanentemente interdisciplinar, ou seja, sabendo cada qual generalizar as estruturas que emprega e redistribuí-las nos sistemas de conjunto que englobam as outras disciplinas. Trata-se, por outras palavras, de os próprios mestres estarem imbuídos de um espírito epistemológico bastante amplo a fim de que, sem para tanto negligenciarem o campo da sua especialidade, o estudante possa perceber, de forma continuada, as conexões com o conjunto do sistema das ciências. Ora, tais homens são actualmente raros. "
Em suma, 'métodos de ensino-aprendizagem' e 'formação de professores' são dois tópicos que sempre me ocorrem quando reparo no título deste meu blogue e me pergunto por que o trago tão abandonado (ao título). Confesso que estou cansada de uma blogosfera docente onde quase todos vêm batendo nas mesmas teclas, raramente tocando nas que escrevem sobre a sala de aula. E como era sobre a sala de aula que eu mais pensava vir a escrever quando iniciei este blogue e lhe dei o título, mas a atenção foi tão desviada que, ao aposentar-me, me restou abandonar as memórias dessa sala, agora dá-me de vez em quando para (re)aflorar umas questões, desistindo, logo a seguir, de continuar. Há demasiado ruído para que se consiga ouvir o âmago das escolas? Há demasiada poeira a ser deitada aos olhos de todos para que se consiga ver onde estão certas questões essenciais?
terça-feira, fevereiro 24, 2009
segunda-feira, fevereiro 23, 2009
sexta-feira, fevereiro 20, 2009
Preciosidades
Gracias a la vida que me ha dado tanto
Me ha dado la marcha de mis pies cansados
Con ellos anduve ciudades y charcos
Playas y desiertos ...
segunda-feira, fevereiro 16, 2009
Lentamente...
Se a mesma rã tivesse sido lançada directamente na água a 50 graus, com um golpe de pernas teria pulado imediatamente da panela.
Isto mostra que, quando uma mudança acontece de um modo suficientemente lento, escapa à consciência e não desperta, na maior parte dos casos, nenhuma reação, nem um pouco de oposição ou alguma revolta.
Se você não está como a rã, já meio cozido, dê um golpe de pernas, antes que seja muito tarde.
sábado, fevereiro 14, 2009
Metade
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.
sexta-feira, fevereiro 13, 2009
Sem regras...
Naquela manhã, quando Leonardo acordou, já o sol entrava por entre as cortinas. Deu uma olhadela ao despertador. Nove horas e meia! E era um dia de escola.
_ Mamã! Mamã!
Nenhuma resposta. Lançou-se em direcção ao quarto laranja.
_ Mamã! – gritou ofegante. – É tarde, vou chegar atrasado!
Mas a mãe, que continuava deitada, meteu a cabeça debaixo da travesseira, resmungando. Leonardo não acreditava no que os seus olhos viam. Habitualmente, era ela que tinha de o tirar da cama.
_ Tenho fome! – gemeu. – Quando é que comemos?
_ Quero lá saber – resmungou a mãe. – Vê no frigorífico.
Leonardo, furioso, dirigiu-se à cozinha. Engoliu um resto de cereais e um copo de água, à laia de pequeno-almoço, o que o deixou de muito mau humor. A mãe levantou-se finalmente por volta das onze horas, bocejou ruidosamente e ligou o televisor. Era o programa das televendas, onde se podia encomendar conjuntos de raspadores, secadores de cabelo, jóias, aparelhos de musculação e o que quer que fosse, com um simples telefonema. A mãe dizia que era um programa pateta e que era preciso estar de cabeça virada para ver aquelas tolices. Mas, naquele dia, estava toda sorridente a assistir, com os olhos arregalados como dois pires e os pés descalços em cima do sofá. À hora do almoço, pôs dois pratos e uma garrafa de ketchup em cima da mesa.
_ O que é que se come? – perguntou Leonardo cheio de esperança, porque com o ketchup vinham muitas vezes batatas fritas.
_ Pão com ketchup – respondeu a mãe.
_ E que mais?
_ É só – disse a mãe. – Ketchup e Coca-Cola.
_ E de sobremesa?
_ Um sonho descongelado.
_ Não é lá muito bom para a saúde – murmurou Leonardo, que se sentiu estranhamente triste por não ter entrada, nem prato, nem sobremesa.
_ E não vou à escola?
_ Não, hoje não vais. É o que tu queres, não é?
Leonardo perguntou-se se a mãe não estaria de cabeça para baixo. Tinha vontade de lhe gritar: _ Leva-me à escola! Manda-me vestir e escovar os dentes! Diz-me que acabe de comer o que tenho no prato!
Mas teve uma ideia melhor.
_ Posso ver televisão?
_ Claro, tudo o que quiseres - disse a mãe, entregando-lhe o telecomando. _ Eu vou deitar-me. Leonardo pegou no telecomando e devorou todos os desenhos animados proibidos, os violentos e idiotas, os mais sangrentos e ruidosos: O Doutor Niarc-Niarc e os seus trinta e seis monstros mal cheirosos, O Robô japonês sedento de sangue e O regresso do game-boy assassino.
Duas horas depois, doía-lhe horrivelmente a cabeça e viu que tinha um problema entre mãos. “O que se há-de fazer”, perguntava-se Leonardo, “quando a nossa mãe cai de cabeça? Será que se deve chamar o médico?” Ainda ontem ela se zangara quando Leonardo se tinha recusado a desligar o televisor. E hoje… fazia tudo ao contrário!
Às sete horas da tarde, Leonardo viu que ninguém o chamava para o banho. Não ouviu correr a água na banheira, como de costume.
_ Dás-me uma ajuda para o banho? – perguntou ele cheio de esperança.
_ Oh, não – disse a mãe que tinha voltado a ligar o televisor.
_ Vou ver a minha telenovela preferida.
_ E para o jantar? – perguntou Leonardo, que sentia a cólera crescer.
_ Vê no armário. Deve haver Estrelitas. Podes entreter-te a trincá-las e a beber Coca-Cola.
Leonardo sentiu saudades do cheiro do gratinado e até do das vagens cozidas a vapor.
_ Estou farto, farto, farto! – gritou.
E foi meter-se no quarto para reflectir. O que estaria a passar-se? Sentia-se empurrado de um lado para o outro. Já não havia regras em casa, toda a gente fazia o que lhe apetecia; ele gostava de sonhos, de Estrelitas e, ainda no dia anterior, tinha torcido o nariz diante das cenouras raladas e do gratinado de courgetes. Então, por que se sentia tão infeliz? Por que tinha tanta vontade de que a mãe lhe desse ordens, lhe dissesse que fosse à escola, que tomasse banho, que comesse os legumes? Sem banho, sentia-se sujo. Estava a ser um dia atroz, medonho, medonho, medonho.
Às nove horas, Leonardo escovou os dentes e enfiou o pijama. A mãe apareceu, trazendo um livro na mão. E perguntou num tom jovial:
_ Então, querido, que tal passaste o dia?
_ Horrível – resmungou Leonardo. – Pavoroso. Um verdadeiro pesadelo. Já não és a minha mãe e eu não quero ver-te mais. És uma feiticeira.
A mãe pegou em Leonardo ao colo, como fazia quando ele era bebé, e o menino deliciou-se com o seu perfume de violetas. Parecia que ela tinha voltado a ser a sua mãe. Será que caíra outra vez de cabeça e anulara o choque anterior?
_ Estou muito contente – disse a mãe – por teres compreendido. Ninguém, e muito menos as crianças, pode viver sem regras, sem leis. Por vezes, o sonho das crianças é deixar de ouvir os pais dizer: “Vai lavar os dentes, pára de ver televisão, são horas de ires para a escola, come os legumes, vais ficar enjoado de tanto comeres bombons”. E por vezes – murmurou ela – os pais também sonham com um mundo onde não tivessem de dizer ou de repetir essas coisas… Mas é impossível. Temos de respeitar certas regras de vida para sermos felizes. Sabes, se a escola não existisse, ias aborrecer-te imensamente em casa!
No dia seguinte, quando a mãe o acordou às sete e meia, dizendo-lhe carinhosamente: _ Levanta-te, querido, são horas! – Leonardo levantou-se imediatamente. Depois, dirigiu-se à cozinha, de onde vinha um cheiro agradável: havia ovos, presunto, sumo de laranja, uma boa chávena de leite… “Uau! Uau!” – pensou. Naquela manhã não foi preciso pedir-lhe que lavasse os dentes nem que pegasse na mochila. E, quando chegou da escola, podes crer que achou deliciosas as ervilhas e a perna de carneiro. Nem ketchup pediu…
Sophie Carquain
Petites histoires pour devenir grand
Paris, Albin Michel.
(Sim, eles parecem não gostar de regras, mas gostam; a falta delas desestabiliza-os. Era bom que não se esquecesse isso em certas famílias e em certas salas de aula. )
quinta-feira, fevereiro 12, 2009
Voltou o sol. Mas...
Depois de muitos dias de frio e chuva, voltou o sol. Mas... não se alterou o mau tempo na política educativa, nem melhorou o clima na Escola.
E, pela blogosfera docente, há espaços tão repletos de ADD e ECD que não sobra espacinho algum para debater as coisas simples mas grandes que respeitam verdadeiramente àqueles para quem a Escola existe: os alunos - coisas que estão nas mãos e quase só nas mãos dos professores.
Coisas simples mas grandes que gostaria de ver ao menos colocadas à reflexão nas escolas e também neste espaço de tão ampla participação que é a blogosfera.
Neste dia de sol, apetecia-me encontrar posts que interrogassem e suscitassem debate sobre questões que a ADD e o ECD parecem ter esfumado, questões tais como:
- como recuperar a formação para os valores, nomeadamente o do trabalho?
- que inovações se impõem nos métodos de ensino?
- quais as estratégias criativas que transformem os conteúdos dos programas em meios que estimulem o gosto pelo acto intelectual de pensar, conhecer e aprender?
- onde impor o tempo para o trabalho colaborativo que defina estratégias colectivas de acção?
Mas... neste dia de sol raros são os espaços onde transparecem essas coisas simples mas grandes. É um sol que não me aquece.
terça-feira, fevereiro 10, 2009
Quando os poetas me falam
Por vezes estou triste e um poeta fala-me e faz-me ficar mais triste. Então, trago o poema para o meu cantinho para me reconciliar com a tristeza.
E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes
encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos
David Mourão-Ferreira
segunda-feira, fevereiro 09, 2009
domingo, fevereiro 08, 2009
Era o que eu também queria escrever...
E porque hoje é domingo...
Todos os pássaros, todos os pássaros
Asas abriam, erguiam cantos,
De Amor cantavam.
Todos os homens, todos os homens,
De almas abertas, de olhos erguidos,
De Amor cantavam.
De Amor cantavam todos os rios,
Todas as serras, todas as flores,
Todos os bichos, todas as árvores,
Todo os pássaros, todos os pássaros,
Todos os homens, todos os homens.
De Amor cantavam...
Sebastião da Gama
sexta-feira, fevereiro 06, 2009
Transtornos...
quarta-feira, fevereiro 04, 2009
...
são dois pares e meio de asas.
- Como quereis o equilíbrio?
David Mourão-Ferreira
terça-feira, fevereiro 03, 2009
Prémio Pedagogia do Afecto
Dando continuidade a mais esta corrente vou seguir a norma, que é a seguinte:
1. Recebendo o troféu, ele deve ser oferecido a 10 blogues que tenham compromisso e afecto com a Educação;
2. A imagem do selo deve passar a ser exibida permanentemente no blogue;
3. O nomeado deve colocar um link para o blogue de onde a nomeação foi atribuída;
4. Nos blogs seleccionados, deve ser deixado um comentário, permitindo assim que eles saibam que foram presenteados e quem os presenteou;
5. O blogue que receber 5 vezes o troféu “Pedagogia do Afecto” deve ir à página deixar um comentário com o e-mail, para receber uma nova homenagem.
Sei que alguns a quem vou atribuir o prémio preferem não participar nestas "correntes", mas esses amigos não ficam obrigados a dar continuidade. Não deixo de lhes atribuir o prémio, pois, para mim, os que vou nomear destacam-se pelo seu afecto pela Educação (mesmo se, como é um caso, já não estão directamente no "terreno") e também pelo meu afecto pessoal.
Assim, por nenhuma outra ordem que não a alfabética dos respectivos autores, atribuo o prémio aos seguintes blogues:
Amélia - Ao longe os barcos de flores
EI - Existente Instante
Fátima - Revisitar a Educação
Henrique - Da Crítica da Educação à Educação Crítica
José Matias - Terrear
Madalena - Chora Que Logo Bebes
Maria Lisboa - Professores Sem Quadro
Matilde - O Canto do Vento
Miguel - outrÒÓlhar
Teres L - Talvez uma Península
Teresa M - Tempo de Teia
Tsiwari - 4thefun
Ah... confundi uma dezena com uma dúzia... agora não consigo emendar! ;)