quinta-feira, janeiro 01, 2009

Pausa

Tenho a estranha sensação de me terem anulado as memórias de professora. Não sou dada a viver de memórias, gosto de ter os pés no presente, mas daí até anular o passado... isso não!
Posso varrê-las para um canto, talvez para um saco de lixo, mas guardo o saco para, quando voltar a dias mais disponíveis do que os que estou a ter, as meter num arquivo com o rótulo de 'coisas retrógradas', numa qualquer prateleira de antiguidades, todavia guardado e protergido.
Entretanto, espero vir a reabrir este cantinho, mesmo que só para... saldos ;)

9 comentários:

Teresa Lobato disse...

É curioso, Isabel, como me sinto tanto como tu...
Tenho papéis ainda dos meus primeiros anos de trabalho, acreditas? Vou arquivando sempre, por algum motivo, papéis do tempo em que não havia fotocópias e as escolas usavam uma velha rotativa para a qual tínhamos de fazer uma matriz, à mão, utilizando um estilete ou uma bic laranja já gasta. Havia dias em que as cópias síam todas manchadas de tinta e sujavam-nos as mãos.:)
Nesse tempo era tão bom ser professor!

Tenho algumas estantes de papéis arquivados que nada me servem para memória futura. Tudo o que eu fiz nesses anos, todos os cargos que tive - e foram todos os que um professor pode ter - já de nada servem para a avaliação que me querem impor.

Então, um dia destes, vou pegar neles sem os folhear, e vou queimá-los. Memória futura para quê, para quem?

Um abraço e um Bom Ano para ti.

Beijo

Anónimo disse...

Tenho uma sugestão para as duas, para a Isabel e para a Teresa: pegavam nesses pedacitos de papel (só teriam o trabalho de os digitalizar) e escreviam um comentário em rodapé, talvez uma pequena evocação. Ora a Ic, ora a Teresa, ora as duas: o Aragem ficava mais animado e, simultaneamente, teríamos pedaços de escola vivida.
Pode ser? :)

IC disse...

Amigos Teresa e Miguel
As minhas memórias já quase só estão na minha mente (quando falo em arquivo ou em prateleira, é em sentido figurado). Os papéis de que fala a Teresa, isso tudo, muitos dossiês, mandei para o lixo pouco tempo depois de me reformar, num dia em que resolvi fazê-lo como a Teresa disse: sem os folhear - apenas a dizer baixinho a mim mesma: "tanto trabalho...".
Por isso, já não posso agarrar a sugestão do Miguel, que até é interessante.
Não sei o que me deu naquele dia em que fiz o despejo dos arquivos em papel de uma vida de professora. Mas pronto, não quero pensar nisso que me está a dar tristeza. Já não serviam mesmo para nada!
Ah! Mas guardei aquele curriculum vitae muito pormenorizado da candidatura ao 8º escalão! lol (Não sei por que guardei... não dizem que os professores nunca foram avaliados?)

Anónimo disse...

"As minhas memórias já quase só estão na minha mente"
E é aí onde elas devem permanecer até que decidas trazer alguma à luz do dia, :)) como aliás tens feito... com menos frequência porque os dias correm cinzentos ;)

Vamos aguardar pelos papelitos da Teresa... é que ainda podem ser livres do fogo

Anónimo disse...

Olá, Isabel! Fomos companheiras de trabalho, não durante muito tempo, mas temos vindo a encontrar-nos por aí.
Também eu estou em vias de me afastar da actividade de professar... Curiosa palavra! Por razões que aqui não vêm ao caso, não estou em actividade há mais de um ano e, por isso, dei comigo a eleger uma herdeira (que por acaso tambem conheces) para lhe passar todos os doc (in)úteis que fui acumulando e que tanto gozo e trabalho me deram a elaborar. Tem sido longa a selecção. Imaginas que ainda tenho os dossiés de estágio?!!! Esses vão direitinhos para a reciclagem. Sinto que estou a eliminar uma parte importante da minha vida, que me deu muito gozo enquanto não chegaram os assassinos do ensino público, e não estou a gostar particularmente. Enfim, fecham-se portas, abrem-se outras. Até sempre.

IC disse...

Olá F! Obrigada pela tua visita :)
Confesso que só por uma inicial não estou a conseguir identificar-te (mas eu sou despistada, desculpa). Mas deixo um abraço.

henrique santos disse...

Isabel, o Fernando Dacosta de quem ando a ler uns livros, tem como lema "Não Apaguem a Memória". Não a deixar apagar é uma luta contra os bárbaros que nos assolam. Aqui as Memórias não estão viradas para o passado, nós sabemos. Pausa mas não abuses... que nós gostamos de passear por aqui. Bom Ano de 2009.

IC disse...

Henrique, respondo-te já depois de ter interrompido a pausa - até agora tenho sempre acabado por as interromper porque não consigo manter-me calada ;)
É verdade, não devemos apagar a memória. Mas às vezes temos que a guardar só para nós mesmos, solitariamente, nem que seja para a protegermos.
Para já, se interrompi fugazmente a pausa para logo a ela voltar, é porque eu já não posso estar activa na luta (com pena - gostaria de estar), restando-me observar e aguardar.
Vós, os amigos da blogosfera, intervenientes e combativos, sois muito importantes para mim, pois permitem-me manter um elo a essa causa da educação que tanto foi também minha. Bem-hajas! Bem-hajam!

Teresa Martinho Marques disse...

Realmente... melhor que varrê-las é aspirá-las, sorvê-las e, quando apetece, gritá-las de mansinho. Os nossos testemunhos do bem ajudam a combater o mal...

Beijinho grande