sábado, novembro 01, 2008

Haja paciência!

C. Spencelayh. Patience.
______
Adenda
Sugiro a leitura deste texto da Maria Lisboa

5 comentários:

Teresa Martinho Marques disse...

:) (não vale apena chorar...)

Teresa Martinho Marques disse...

:) (não vale apena chorar...)

Teresa Martinho Marques disse...

ui... saíu repetido (também não faz mal, mais valem dois sorrisos que um só...)

Existente Instante disse...

Antes de mais...sensibilizado, porque me lê. Na postagem sobre Gould e o silêncio, teclei o meu silêncio afectuoso pela Isabel e as "Memórias".
Sobre o seu poste " Haja sim senhor"!

Na Bíblia a paciência é uma virtude,

"O homem paciente é cheio de inteligência", "Provérbios 14,29" ;

"O homem paciente acalma a rixa" . "Provérbios 15,18" ;

"O paciente resistirá até ao momento oportuno, mas depois a alegria brotará para ele" : "Eclesiástico 1,23"

Mas...O grande poeta Carlos Drummond de Andrade afirmava que :

por vezes "Não é fácil ter paciência diante dos que têm excesso de paciência "
O que também não deixa de ser verdade, mas o que eu gosto mesmo, como a Isabel sabe é de poesia e do Ramos Rosa e de ser um "Boi da Paciência".
Aí vai:

O Boi da Paciência
Noite dos limites e das esquinas nos ombros
noite por de mais aguentada com filosofia a mais
que faz o boi da paciência aqui?
que fazemos nós aqui?
este espectáculo que não vem anunciado
todos os dias cumprido com as leis do diabo
todos os dias metido pelos olhos adentro
numa evidência que nos cega
até quando?
Era tempo de começar a fazer qualquer coisa
os meus nervos estão presos na encruzilhada
e o meu corpo não é mais que uma cela ambulante
e a minha vida não é mais que um teorema
por demais sabido!
Na pobreza do meu caderno
como inscrever este céu que suspeito
como amortecer um pouco a vertigem desta órbita
e todo o entusiasmo destas mãos de universo
cuja carícia é um deslizarr de estrelas?
Há uma casa que me espera
para uma festa de irmãos
há toda esta noite a negar que me esperam
e estes rostos de insónia
e o martelar opaco num muro de papel
e o arranhar persistente duma pena implacável
e a surpresa subornada pela rotina
e o muro destrutível destruindo as nossas vidas
e o marcar passo à frente deste muro
e a força que fazemos no silêncio para derrubar o muro
até quando? até quando?
Teoricamente livre para navegar entre estrelas
minha vida tem limites assassinos
Supliquei aos meus companheiros.Mas fuzilem-me!
Inventei um deus só para que me matasse
Muralhei-me de amor e o amor desabrigou-me
Escrevi cartas a minha mãe desesperadas
colori mitos e distribuí-me em segredo
e ao fim ao cabo
recomeçar
Mas estou cansado de recomeçar!
Quereria gritar:Dêem árvores para um novo
recomeço!
Aproximem-me a natureza até que a cheire!
Desertem-me este quarto onde me perco!
Deixem-me livre por um momento em qualquer parte
para uma meditação mais natural e fecunda
que me limpe o sangue!
Recomeçar!
Mas originalmente com uma nova respiração
que me limpe o sangue deste polvo de detritos
que eu sinta os pulmões com duas velas pandas
e que eu diga em nome dos mortos e dos vivos
em nome do sofrimento e da felicidade
em nome dos animais e dos utensílios criadores
em nome de todas as vidas sacrificadas
em nome dos sonhos
em nome das colheitas em nome das raízes
em nome dos países em nome das crianças
em nome da paz
que a vida vale a pena que ela é a nossa medida
que a vida é uma vitória que se constrói todos os dias
que o reino da bondade dos olhos dos poetas
vai começar na terra sobre o horror e a miséria
que o nosso coração se deve engrandecer
por ser tamanho de todas as esperanças
e tão claro como os olhos das crianças
e tão pequenino que uma delas possa brincar com ele
Mas o homenzinho diário recomeça
no seu giro de desencontros
A fadiga substituiu-lhe o coração
As cores da inércia giram-lhe nos olhos
Um quarto de aluguer
Como perservar este amor
ostentando-o na sombra
Somos colegas forçados
Os mais simples são os melhores
nos seus limites conservam a humanidade
Mas este sedento lúcido e implacável
familiar do absurdo que o envolve
como uma vida de relógio a funcionar
e um mapa da terra com rios verdadeiros
correndo-lhe na cabeça
como poderá suportar viver na contenção total
na recusa permanente a este absurdo vivo?
Ó boi da paciência que fazes tu aqui?
Quis tornar-te amável ser teu familiar
fabriquei projectos com teus cornos
lambi o teu focinho acariciei-te em vão
A tua marcha lenta enerva-me e satura-me
As constelações são mais rápidas nos céus
a terra gira com um ritmo mais verde que o teu passo
Lá fora os homens caminham realmente
Há tanta coisa que eu ignoro
e é tão irremediável este tempo perdido!
Ó boi da paciência sê meu amigo!

- António Ramos Rosa -


No meio de tanta agitação, de tanto agitar conturbado das águas dos tempos, é tão bom, tão sereno, tão regenerador ler o Memórias, a Isabel! Sussurro minimalista o seu dizer, e isso é tão bom, no meio da vozearia inconsistente e megafónica!

IC disse...

Existente Instante
Não tenho palavras. Aliás, este meu cantinho já pouco vai falando, falta-me estar "lá", nesse terreno onde vivi tanto, inclusive tantas lutas... Posso dizer apenas muito, muito obrigada?