quinta-feira, julho 31, 2008

Pretextos para pôr o cantinho com ar de férias

Uma vila bonita e um mar bonito à distância máxima (cerca de 200 km) que me disporia a percorrer no meu velho carrito com dona ainda convalescente. E o carrito chegou, estacionou, e só saiu do lugar para o regresso, pois trânsito e preguiça de andar a pé não são coisas para férias.

A minha maior caminhada a pé foi para descobrir esse barco, cuja história não consegui saber - não sei quando naufragou nem como foi parar ali...




Mas a caminhada de ida e volta a pé para a praia mais bonita para onde gostávamos de ir era excessiva cá para mim. Assim, eis a solução ideal: comboio para lá e a pé para cá, ou vice-versa...



Quando iniciei este blogue não acreditaria que viria a ultrapassar memórias de professora pondo nele também fotos mais pessoais. Mas a verdade é que este espaço virtual me foi dando a sensação de cantinho mesmo, assim um cantinho meu onde me viesse sentar e guardar recordações - devia mudar-lhe o visual e pôr lá em cima um recanto com trepadeiras em flor, uma mesinha e um banco em pedra... Enfim, aí me deixo a mim mesma, já vestidinha para o jantar...


E mais umas fotos de férias aproveitando para partilhar esta ferramenta rápida para brincar com slideshow... (Se não virem as fotos, façam refresh)

segunda-feira, julho 21, 2008

Oito dias à beira-mar

Eu até não aprecio nada estar na praia a torrar ao sol. Mas gosto de olhar o mar e gosto da praia à tardinha.

E não vejo praia há um ano, por razões que não interessam para aqui mas que vão tornar os próximos dias num acontecimento especial para mim.

Assim, amanhã lá vou eu...
Depois espera-me o Agosto cá pela capital... ui... hei-de arranjar umas fugidinhas, senão não torro na praia mas torro neste forno por aqui!

Amigos e colegas, boas férias para todos!

quinta-feira, julho 17, 2008

Pensamentos de Verão





Extingue-se o dia
mas não o canto
da cotovia
Matsuo Bashô

Um mar azul
pintou de branco
o voo das gaivotas.

Albano Martins

O dia lega
à noite, em testamento,
a lua.
Albano Martins

terça-feira, julho 15, 2008

Tocando em frente

Penso que cumprir a vida seja simplesmente
Compreender a marcha e ir tocando em frente

Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si carrega o dom de ser capaz
E ser feliz



Ando devagar porque já tive pressa
E levo esse sorriso porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe
Só levo a certeza de que muito pouco eu sei
Eu nada sei

Conhecer as manhas e as manhãs,
O sabor das massas e das maçãs,
É preciso amor pra poder pulsar,
É preciso paz pra poder sorrir,
É preciso a chuva para florir

Penso que cumprir a vida seja simplesmente
Compreender a marcha e ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro levando a boiada
Eu vou tocando dias pela longa estrada eu vou
Estrada eu sou

Conhecer as manhas e as manhãs,
O sabor das massas e das maçãs,
É preciso amor pra poder pulsar,
É preciso paz pra poder sorrir,
É preciso a chuva para florir

Todo mundo ama um dia todo mundo chora,
Um dia a gente chega, no outro vai embora
Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si carrega o dom de ser capaz
E ser feliz

domingo, julho 13, 2008

Saturação

Estou saturada de política educativa, de decretos e despachos, de reformas avulsas e de discursos inconsistentes; estou saturada de normas e mais normas, por vezes de constitucionalidade ou legalidade duvidosa; estou saturada de verbalizações de intenções sobre uma escola pública de qualidade, a pretenderem esconder o economicismo, a desconfiança nos docentes em geral e as pressas em melhorar estatísticas que tapam realidades; estou saturada de faltas de rigor, de palavras incongruentes que muito poucos desmontam, de precipitações incompetentes e burocracias desastrosas.

Enquanto isto, a criança espera, entregue a experiências perigosas para o seu futuro, ser abstracto para os políticos e ser concreto para o qual os educadores vão tendo cada vez menos tempo.
Enquanto isto, degradam-se os climas de escola e perdem-se os melhores e mais dedicados professores, sem que se acredite que as medidas tomadas venham a melhorar o trabalho dos que precisam de o melhorar.






Estou saturada, estou farta! Preciso de férias de observar esta política que dura há três anos. Vou, pois, dar férias à minha atenção aos assuntos da Educação. Por enquanto continuo por aqui, mas, até Setembro, quando me apetecer vir ao meu cantinho, será só para trazer ambientes de férias.



Aos amigos e colegas: Boas férias, boa recuperação de ânimo, retemperem bem a vontade de lutar por uma escola pública de qualidade para todos os nossos jovens!

quinta-feira, julho 10, 2008

A fraude das provas de Matemática

O Governo e o ME declararam o seu empenho em melhorar o ensino-aprendizagem da Matemática e esse empenho foi bem vindo dada a preocupação, desde há tantos anos, com as elevadas taxas de insucesso nessa disciplina. A implementação do Plano de Acção para a Matemática (PAM), por si só, teria trazido legítimas e correctas expectativas de melhoria das aprendizagens dos alunos em matemática, não fossem as pressas e as pressões para se apresentarem rapidamente estatísticas para inglês ver - melhor dizendo, para UE ver. As várias pressões da parte da Tutela foram criando dúvidas quanto a uma verdadeira melhoria na Educação Matemática das nossas crianças e jovens.

Uma das pressões, através da responsabilização dos professores (e só dos professores) pelos insucessos dos alunos, a ponto de aqueles serem penalizados na sua avaliação, não terá deixado de se reflectir numa inflação de notas por muitos deles.
Mas, a inflação indevida das notas na avaliação interna seria denunciada pelos resultados das provas nacionais, pelo que muitos professores não terão resistido a outra pressão: a de trabalharem com os alunos no treino em perguntas e problemas "do tipo que sai em exames", para o que não terá deixado de contribuir a insistência no banco de uma imensidade de itens do dito tipo, disponibilizado pelo GAVE. Ora, a Educação Matemática que se deseja para os nossos alunos não se faz por treinamento para exames.
Ainda uma terceira pressão se verificou através de uma sugestão da ministra (li-a, na altura, com os meus próprios olhos) de passarem a ser as aulas de Estudo Acompanhado e da Área de Projecto convertidas em aulas de Matemática, pelo que, em muitas escolas, essas áreas foram atribuídas tanto quanto possível a professores de Matemática a fim de passarem a ser mesmo aulas dessa disciplina. Não se tratando de reforços apenas para os alunos que de facto precisam de apoio suplementar (e muitos tiveram também aulas de apoio apesar de apenas precisarem de estar mais atentos e de se esforçarem), mas para a turma inteira, tivemos muitos alunos queixando-se de saturação com tanta matemática, o que tem efeito contrário ao desejável aumento do gosto pela mesma.

Assim, perante, por um lado, expectativas positivas quanto ao PAM, e, por outro, também interrogações sobre aspectos perniciosos, todos tínhamos direito a ter algum elemento de avaliação das medidas tomadas para essa disciplina, o país tinha direito a isso. Mas tal direito foi-nos sonegado pela significativa maior facilidade das provas, desde as de aferição dos 4º e 6º anos, ao exame do 9º. (Deixo de lado a prova do 12º porque, além de não poderem ser atribuídas melhorias nos resultados ao PAM, nunca leccionei nesse nível de ensino, há muito que estou pouco a par dos programas, pelo que só tenho visto por alto essas provas. Mas conheço os programas de Matemática do 2º e 3º ciclos como os dedos da mão e tenho analisado detalhadamente todas as provas do 9º ano desde que começaram a realizar-se, aliás cheguei a ser correctora na 1ª, de 2005)
Por muitas reservas que tenhamos quanto à leitura que se pode fazer dos resultados de uma só prova, para mais em alunos destas idades, um exame feito com critérios credíveis e fiáveis seria o elemento que teríamos para, de algum modo, avaliar efeitos das medidas tomadas quanto à Matemática. E esse elemento foi-nos recusado pela impossibilidade de comparações, pela indiscutível maior facilidade das provas em relação às dos anos anteriores.
Seria um elemento insuficiente, um exame não avalia tudo, um exame pode não avaliar verdadeiramente o essencial do que chamo Educação Matemática, mas seria o elemento possível a curto prazo, e já seria um indicador.

A Educação Matemática é muito mais do que aquisição de conhecimentos e domínio de procedimentos elaborados de que a maioria dos jovens nem irão precisar na vida adulta. Quaisquer que sejam os conteúdos dos programas (o que não quer dizer que estes sejam sempre os adequados), eles proporcionam uma coisa fundamental no ensino básico: oportunidades aos professores de fomentarem e desenvolverem cedo nos alunos gosto e hábitos de raciocinar, de iniciação no pensamento rigoroso (e na auto-exigência deste), de iniciação também na elaboração de conceitos - que se irão construindo melhor pela sua retomada cíclica -, e até de contribuição dessa educação para o próprio domínio da língua, pois rigor de pensamento e precisão de linguagem são capacidades em interacção.

Por tudo isto, são de recear efeitos perniciosos de pressões (directas e indirectas) sobre os professores, inclusive para trabalharem treinando para exames; por tudo isto, ficam receios ou dúvidas sobre a relação entre benefícios e prejuízos decorrentes das medidas e do clima criado; por tudo isto, todos os que se preocupam com educação-ensino tinham direito a começarem a ter indicadores credíveis que permitissem algum balanço. Mas o ME não teve a honestidade de se submeter a esse balanço, usou ou consentiu a facilitação das provas, o que é um insulto à nossa inteligência e lança sérias preocupações sobre o futuro quanto a uma formação de qualidade para os nossos jovens.
_______
Adenda (após os noticiários das 13h)
Senhora Ministra:
Ouvi-a recusar as acusações de facilidade do exame de Matemática do 9º ano com o argumento (o critério foi seu) de que um exame só seria demasiado fácil se as notas de excelente ultrapassassem os 5%. Perante 8,3% (contra 1,4% no ano passado), a senhora vai agora fazer esquecer essa sua afirmação?
Se a prova tivesse sido equilibrada e credível, ficaria muito bem à senhora e aos seus coadjuvantes vir dizer que os resultados continuam maus, pois é verdade. Mas já não lhes fica bem quando o dizem para salvar a face e iludir os pais e restante população quanto ao que seriam sem o facilitismo.
Prefere não se lembrar dessa afirmação que fez? Nunca pensa que, como Ministra da Educação, deveria dar o exemplo de honestidade intelectual?
Senhora Ministra, vá-se embora!

domingo, julho 06, 2008

Flores e calma numa tarde de sábado

Às vezes estou em casa a sonhar com ar puro, natureza, beleza, calma, e tudo isso se me afigura distante, como se tivesse que empreender uma caminhada longa no carrito para encontrar um lugar assim. No entanto, posso encontrar tal lugar, ainda que em miniatura, sem ter que vencer a preguiça de planear longa deslocação. E um lugar que, mesmo sendo, de certo modo, em miniatura, não deixa de ter todos aqueles ingredientes de que estou a ter necessidade.
Ontem o que fiz foi procurá-lo perto de casa - eu sabia que o tinha bem perto - para ir lavar o espírito e deixar-me invadir pela calma, a tranquilidade, a serenidade que tenho andado a precisar de beber todos os dias.
O jardim do Museu Nacional do Traje é um lugar assim, é um recanto onde se esquece o stress da cidade e o stress de coisas da vida.

(Fotos de péssima amadora, mas não vou cair em complexos por causa da minha pouca arte fotográfica!)






sábado, julho 05, 2008

;o) Avaliações (Opinião controversa, mas eu até concordo)

"Sempre deve haver avaliações. Um professor de piano que ouve um aluno seu interpretando uma peça está constantemente avaliando. Ele avalia para corrigir a performance, para que a performance fique melhor. Agora, avaliar para atribuir um número, nota, ao aluno, isso é estúpido."
Rubem Alves (Em entrevista aqui)

terça-feira, julho 01, 2008

Recordando uma canção

Há dias, como agora, em que preciso de me lembrar das flores, de falar delas, de acreditar nelas. Assim neste cantinho quieto, que não é só para pensar na Educação, é também um lugarzinho só meu.

Gosto muito desta canção. Tinha-a em vinil; depois vieram os cds, procurei-a, mas nunca encontrei nova gravação à venda. Até que, um dia, um amigo ma enviou em mp3 (eu ainda não conhecia o Emule e outros meios de obter músicas na net).
Já a deixei algures neste cantinho, mas agora, com o YouTube, (quase) tudo se encontra em vídeo.

É uma canção datada? Pois é, mas nunca há data para acreditar nas flores.
Como também nunca há data para dizer:

Quem sabe faz a hora não espera acontecer
Vem, vamos embora que esperar não é saber


Geraldo Vandré: Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores...