Embora Mia Couto já tenha sido galardoado com vários prémios literários, li a notícia e vim direita aqui ao meu cantinho. Porque Mia Couto e a sua obra literária fascinam-me.
E, enquanto o novo acordo ortográfico me exaspera, sabe-me bem recordar como Mia Couto, ao contrário de desvirtuar a Língua Portuguesa, mas usando tanto o léxico de regiões moçambicanas, a enriquece, como que a recria de uma forma extasiante.
Identidade
Preciso ser um outro
para ser eu mesmo
Sou grão de rocha
Sou o vento que a desgasta
Sou pólen sem insecto
Sou areia sustentando
o sexo das árvores
Existo onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro
No mundo que combato
morro
no mundo por que
nasço
para ser eu mesmo
Sou grão de rocha
Sou o vento que a desgasta
Sou pólen sem insecto
Sou areia sustentando
o sexo das árvores
Existo onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro
No mundo que combato
morro
no mundo por que
nasço
Setembro de 1977. In Raiz de Orvalho e Outros Poemas, Ed. Caminho, 1999
3 comentários:
Sim ele merece - a meu ver mais pela prosa poética do que pelos poemas. É um dos grandes escritores da nossa língua mãe.
Também é sobretudo a prosa que aprecio nele. Mas estava de saída, não tinha tempo de ir escolher um excerto. Às vezes, num livro dele, detenho-me numa página, ou só numa frase, como se ficasse a contemplar...
Gosto imenso de Mia Couto, da prosa, mas também da poesia. Fizeste uma boa escolha!
=)
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