sábado, maio 28, 2011

Mãe, não quero dizer a palavra adeus

porque partiste aconchegadinha nas almofadas que te amparavam no sofá da tua casinha, sem sentires que partias.
Quando perdemos um amigo, ficamos mais sós no mundo, mas não ficamos sós. Mas eu sabia que no dia em que te perdesse eu ficaria num grande mundo onde, perto ou longe, eu já não sentiria a presença única de um amparo, mesmo que a ele não me quisesse amparar, ou mesmo que  parecesse  já não existir por já nada poderes senão seres tu totalmente amparada - mas existia, mas existia mesmo assim, só por estares cá.
Estive independente, estive muitas vezes distante de ti - foi preciso, ou precisei. Também eras muito autónoma, e quiseste e conseguiste com admirável longevidade. Mas quando já não pudeste, estivemos tão juntas, longamente, que eu hoje, neste dia em que partiste, só sei que vou ter que aprender e que vai ser doloroso aprender  a viver sem isso, (re)aprender um quotidiano em que... um quotidiano sem que...
Mãe, eu não esperava que partisses já, todos os dias respondias "estou boa"... "estou bem".
Obrigada, Mãe, por poder recordar-te assim.

13 comentários:

Fátima André disse...

Minha querida amiga,
Deixo-te um caloroso e sentido abraço e a certeza de que Deus ganhou mais uma amiga junto de D'Ele... mais uma estrelinha no Céu a iluminar-nos cá na Terra, assim creio.

Amélia disse...

A minha foi-se-me há 30 anos.Ou por outra: apenas deixou de ser vista, porque mora na minha memória,sempre doce e generosa como foi. Um abraço amigo.

Isabel Preto disse...

Minha querida amiga, não há palavras que se possam dizer nestes momentos...Estou aqui.
Mil beijos.

Miguel Pinto disse...

:( Um grande abraço, Isabel.

Henrique Santos disse...

Um Abraço Solidário, Isabel.

matilde disse...

Um beijinho muito grande Isabel. Com carinho.

IC disse...

Obrigada queridos amigos - amigas e amigos.

Luisa Moreira disse...

Um abraço e um beijinho muito grande.

Isabel Preto disse...

Passei, para saber se estás a aguentar-te, com esta dor imensa, que nos fica, quando alguém parte para longe.
Força, minha querida.
Adoro-te.

IC disse...

Luisa, muito obrigada.

IC disse...

Isabel, muito obrigada minha querida amiga. Preciso de uns dias para cuidar de me recompor, mas a vida ensinou-me a força, e sentir os amigos reconforta muito. Eu racionalizarei, porque os meus entes mais queridos sempre estiveram presentes pelo pensamento e no coração, mesmo quando longe. E o amor e a saudade tornam-se serenos.

Existente Instante disse...

Dizer-te o quê Isabel?

As melhores palavras são brancas e essas guardam o silêncio.
A minha tristeza por ti nessas brancas palavras. Subentendo a ausência no teu coração escuro.

Pressinto-te aninhada no teu salão vazio, talvez encolhida de braços e pernas, desejosa de regressar a esse quente bom e generoso do teu princípio seguro quando olhavas para Ela, a Mãe, árvore-sequóia, rochedo de segurança.
Talvez isso a tristeza, talvez isso a perda que não queríamos, mas que sabemos ir acontecer. Talvez...

Depois, desabrochar outra vez, sair desse casulo doloroso, cambaleante sem dúvida, mas com esse sorriso cálido e retemperado da Mãe, que quer que continues esta obra sempre inacabada, o eterno recomeço. Longe, Ela irá andar por perto, guarda diurno e nocturno do teu navegar.

Do meu silêncio para a tua dor magoada.

IC disse...

Amigo EI, comove-me e conforta-me a tua presença. E conforta-me que a minha Mãe tenha partido, quase a completar 98 anos, fazendo-me sentir esse eterno recomeço, porque Ela cumpriu um ciclo completo ao evoluir ultimamente até como que ao começo, como que ao bebé que eu fui e Ela cuidou, como eu agora cuidei, sentindo-se bem, sem a lucidez que os bebés também não têm, o que lhe permitiu não sofrer com essa perda de autonomia. Mas gostando das nossas presenças permanentes e respondendo "estou bem" ou "sinto-me bem" - até no último dia já em voz muito debil. Só adormeceu. Por isso eu não digo Adeus - só adormeceu eternamente.
Em silêncio, lágrimas ao escrever-te. Mas escorregam devagarinho, de mansinho, porque já estou serena, porque já senti que afinal basta recordá-la para Ela estar presente com o imenso Amor que teve por mim.