sábado, maio 28, 2011

Mãe, não quero dizer a palavra adeus

porque partiste aconchegadinha nas almofadas que te amparavam no sofá da tua casinha, sem sentires que partias.
Quando perdemos um amigo, ficamos mais sós no mundo, mas não ficamos sós. Mas eu sabia que no dia em que te perdesse eu ficaria num grande mundo onde, perto ou longe, eu já não sentiria a presença única de um amparo, mesmo que a ele não me quisesse amparar, ou mesmo que  parecesse  já não existir por já nada poderes senão seres tu totalmente amparada - mas existia, mas existia mesmo assim, só por estares cá.
Estive independente, estive muitas vezes distante de ti - foi preciso, ou precisei. Também eras muito autónoma, e quiseste e conseguiste com admirável longevidade. Mas quando já não pudeste, estivemos tão juntas, longamente, que eu hoje, neste dia em que partiste, só sei que vou ter que aprender e que vai ser doloroso aprender  a viver sem isso, (re)aprender um quotidiano em que... um quotidiano sem que...
Mãe, eu não esperava que partisses já, todos os dias respondias "estou boa"... "estou bem".
Obrigada, Mãe, por poder recordar-te assim.

sexta-feira, maio 27, 2011

Para os meus netos (mas tenho a felicidade de me orgulhar deles)

(Via JMA)

Anjos com uma asa

Sei que, para os jovens de hoje, as coisas estão mais difíceis do que para as gerações anteriores. Como, talvez, não se possam comparar fenómenos que não são comparáveis, direi simplesmente que as coisas estão difíceis. Muitos pensam que os jovens dispõem de tudo: estudos, dinheiro, diversões, viagens, oportunidades ... Eu penso que lhes falta o mais essencial: o sentido das coisas numa sociedade que se desumaniza. Não é fácil resistir à corrente que nos arrasta, violentamente, para a competitividade, o individualismo, o relativismo moral e o conformismo.

Na sociedade em que vivemos, não é fácil conseguir um lugar, sem afastarmos os outros às cotoveladas. Não é fácil opor-se a quem tem algo para dar. Na altura em que têm de mostrar que valem para alguém ou para alguma coisa, vêem-se condenados a uma corrida interminável que acaba por conduzi-los ao desemprego.

Não sei quantos jovens de hoje subscreveriam as palavras de Camus: "Não podemos pôr-nos ao lado dos que fazem a história, mas ao serviço dos que a suportam". É mais fácil estar ao lado de quem pode distribuir prebendas, apoios, emprego ou, simples¬mente, sorrisos.
É preocupante ver como alguns jovens viram costas à esperança, mergulhados em si mesmos, nada preocupados com os problemas das pessoas e da sociedade. É preocupante ver que os que começam a caminhar já estão cansados da viagem, fartos de si mesmos, sem vontade de melhorar o percurso da vida dos que caminham a seu lado.

Nem toda a juventude assim é. Bem o sei. Há jovens entusiastas, comprometidos, empenhados. Há jovens sensatamente optimistas e, ao mesmo tempo, com um realismo empreendedor para melhorar as coisas.
Quero repetir, aqui, a mensagem que um ancião de 88 anos escreveu para os jovens. Uma pessoa que, apesar de já ter percorrido um longo caminho semeado de obstáculos, de tragédias e de dor, ainda mantém a esperança. Não de forma ingénua, evidentemente.

Ernesto Sabato escreveu o seu testamento destinado à juventude. Foi Seix Barral quem o publicou, com o título de Antes do Fim. Aos 88 anos, este doutorado em Física que abandonou os seus trabalhos sobre radiações atómicas para se dedicar, a partir de 1945, à literatura dirige-se aos que estão a iniciar um projecto de vida. E fá-lo sem dogmatismos, com humildade. As primeiras palavras da sua obra são significativas:
"Tenho vindo a acumular muitas dúvidas ... ".

Sabato constitui como destinatários do seu testamento moral os adolescentes e os jovens. Delicada etapa da vida em que se busca, ansiosamente, o sentido das coisas. Também se dirige aos idosos que, olhando para trás, se interrogam se terá valido a pena tanta dor, tanto caminho .. "Sim, escrevo isto "- diz Sabato -" sobretudo para os adolescentes e jovens, mas também para os que, como eu, nos aproximamos da morte, e nos perguntamos com que finalidade e por que razão vivemos, aguentámos, sonhámos, escrevemos, pintámos ou, muito simplesmente, empalhámos cadeiras".

Disse Camus: "Existe apenas um único problema filosófico verdadeiramente sério: o suicídio. Decidir se a vida vale ou não a pena ser vivida é responder à pergunta fundamental da filosofia". Todas as perguntas acabam por nos conduzir a esta pergunta central que tem as suas raízes no coração humano.
Sabato não é um ingénuo. Não é um cínico. Construiu, com dor, um pequeno monte do qual se vislumbra a esperança. Muitas vezes se debruçou sobe o profundo poço do suicídio. E encontrou em si mesmo e nos outros uma réstia de esperança que o ajudou a continuar o caminho. As últimas palavras do seu testamento para os jovens são esclarecedoras: "Só os que forem capazes de encarnar a utopia estarão aptos para o decisivo combate, o de recuperar quanto de humanidade já perdemos".

Interroga-se Sabato, como já fizera antes em algumas das suas obras, sobre o sentido da pessoa na crise do nosso tempo. Estremecemos ao ler algumas das suas páginas (sobretudo o capítulo intitulado "A Dor Faz Parar o Tempo"). Como é possível manter a esperança no meio de tantos desastres, tanta miséria, tanta crueldade, tantos maus presságios?

O mais aberrante, talvez, é a desproporção da violência a que estão expostas as crianças. As torturas, a exploração, a venda, o abandono de crianças parece dar razão a Nietzsche, quando dizia: "Os valores já não valem" .

O filósofo Fernando Savater encerra a sua interessante obra As Perguntas da Vida com este poema de Heinrich Heine: "E não deixamos de interrogar-nos uma e outra vez; até que um punhado de terra/ nos cala a boca! Mas, será isto uma resposta?".
Num mundo que se desumaniza, há que pensar, com Goethe, que "a humanidade acabará por triunfar". E uma boa parte desse triunfo está nas mãos da juventude.

A comunidade caminha para a Utopia. Está em Utopia. É como a personagem da seguinte história. Era uma vez, há centenas de anos, um homem que, uma noite, caminhava pelas escuras ruas duma cidade do Oriente, com uma lâmpada acesa. Encontra-se com um amigo que, surpreendido, lhe pergunta:

- Que fazes tu, que és cego, com uma lâmpada acesa nas mãos?
Responde o cego:
- Não levo a lâmpada para poder ver o meu caminho. Conheço as ruas de cor em plena escuridão. Levo esta luz para que os outros, quando derem comigo, possam descobrir o seu caminho.

A esperança radica na ajuda mútua, na justa convivência, na solidariedade. Li numa parede da cidade de São Salvador de Jujuy este grafito: "Somos anjos com uma asa. Precisamos de nos abraçar para poder voar".

Miguel Santos Guerra. No coração da escola.

terça-feira, maio 17, 2011

Beco...

Beco sem saída.
Beco sem saída?

(...)
Levanta-te meu Povo. Não é tarde.
Agora é que o mar canta  é que o sol arde
pois quando o povo acorda é sempre cedo.

(Do Soneto do Trabalho, de Ary dos Santos)

quinta-feira, maio 12, 2011

Coisas insólitas

(Escrevo às 23h 45m)

Por favor, expliquem-me devagarinho, como se eu fosse muito, muito burra!

1. Resumo por palavras minhas (desculpem se a minha burrice deturpa):

_ Temos um programa, temos estratégias.
_ Mas como vão conseguir...?
_Teremos que estudar isso.
_ E como vão conseguir...?
_Isso é um problema a estudar.
.......
_E como sabe... como vai ter tempo para saber...?
_(Ainda) Não sei, mas só precisarei de 15 dias para saber.

2. O que me parece uma originalidade verdadeiramente histórica:

   Um governo minoritário de um país democrático consegue sozinho ser todo-poderoso (e ainda por cima para gerar uma catástrofe política-económica-financeira)
(Haja decoro a lavar as mãos!)

segunda-feira, maio 02, 2011

Reparo a jornalismos-TV sobre a notícia do dia

Não comento a notícia do dia. Sou frontalmente contra o terrorismo, mas não sei quais as consequências do acontecimento.
Vim aqui apenas por ter acabado de ouvir (23h53m), entre as várias vozes portuguesas de jornalistas repetindo a notícia, uma referindo o atentado do 11 de Setembro como "a maior tragédia de que há memória na Histótia da humanidade". (!!!)
Claro que todos os atentados ceifando vidas são tragédias. Claro que todos os que assistimos (e repetidamente) na TV ao 11 de Setembro ficámos impressionados e revoltados, mesmo os que depois admitimos que talvez ficasse para sempre por esclarecer completamente. Mas... haja senso! E haja cuidado na escolha dos jornalistas que são admitidos para emitirem ou repetirem notícias, a qualquer hora que seja. 
Foram muitas as vítimas do atentado do 11 de Setembro, mas... foram cerca de três mil. 
Nem é necessário lembrar ao sr. jornalista (e a outros que tais)  uma  tragédia tão grande como o Holocausto, para o qual não é preciso longa memória histórica, a menos que, na sua ideia,  "tragédia" só conte se nela forem abrangidos cidadãos americanos.

Parábola (?)

Sermão do Bom Ladrão
(excerto)
Suponho finalmente que os ladrões de que falo não são aqueles miseráveis, a quem a pobreza e vileza de sua fortuna condenou a este género de vida, porque a mesma sua miséria, ou escusa, ou alivia o seu pecado, como diz Salomão: Non grandis est culpa, cum quis furatus fuerit: juratur enim ut esurientem impleat animam. O ladrão que furta para comer, não vai, nem leva ao Inferno; os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são outros ladrões, de maior calibre e de mais alta esfera (...) Não são só ladrões, diz o santo, os que cortam bolsas ou espreitam os que se vão banhar, para lhes colher a roupa: os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. - Os outros ladrões roubam um homem: estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo do seu risco: estes sem temor, nem perigo; os outros, se furtam, são enforcados: estes furtam e enforcam. Diógenes, que tudo via com mais aguda vista que os outros homens, viu que uma grande tropa de varas e ministros de justiça levavam a enforcar uns ladrões, e começou a bradar: - Lá vão os ladrões grandes a enforcar os pequenos. - Ditosa Grécia, que tinha tal pregador!
Padre António Vieira - Sermão do Bom Ladrão, 1655

(Com o agradecimento à Amélia Pais)

domingo, maio 01, 2011

Mãe...

... sempre me acalentaste, mesmo quando não o sabias, mesmo quando eu parecia fugitiva, e também naqueles momentos que te escondi, em que desejei colo em lágrimas silenciosas enxugadas pelo teimar da força que precisei de encontrar em mim.


Agora é a minha vez...  Que sintas todos os dias o Dia da Mãe.