O sistema educativo é o tema central para nós, professores. Mas há que estender para além dele uma consciência atenta e lúcida.
Sabemos que a política educativa entre nós não é mais do que a cópia subserviente dos ditames da globalização e, muito em particular, da União Europeia. Entretanto, as interrogações sobre o estado de saúde (ou de falta de saúde) da democracia são bem mais latas do que as questões específicas da Educação.
Eu até nem gostava muito dos artigos de António Barreto, mas ultimamente tenho gostado.
Deixo excertos do seu artigo de ontem, no Público, (destaques meus) podendo ser lido na íntegra aqui.
"(...) os governos da União preparam-se para aprovar, esta semana, em Lisboa, ou mais tarde em qualquer outra capital, a absurda Constituição, ora rebaptizada de Tratado. (...) O Tratado é tão diferente da Constituição derrotada como um ovo branco é diferente de um branco ovo. (...) A elaboração deste Tratado foi feita em circuito fechado. A discussão em segredo. A aprovação será furtiva. Para os dirigentes europeus, a União é mais importante do que a democracia. E a Europa mais importante do que os povos europeus.
Evitar os referendos, despachar a aprovação do Tratado e contornar o debate público são as prioridades de quase todos os dirigentes europeus. Que não se esquecerão, depois, de carpir sobre o "défice democrático europeu" e a "distância crescente entre dirigentes e cidadãos". (...)
Tarde ou cedo, haverá acordo e Tratado. E quase todos estão disponíveis para evitar os referendos e proceder, assim, sem a voz dos povos, à liquidação dos parlamentos nacionais. Estes serão, de futuro, tão importantes como uma Associação de Antigos Estudantes ou como a Confraria do Besugo. Os dias que aí vêm são o princípio da morte da democracia nacional. Sem que haja uma democracia europeia que a substitua e a melhore. É pena que a presidência portuguesa seja a agência funerária. Que o primeiro-ministro português seja o mestre-de-cerimónias. E que o cangalheiro, presidente da Comissão, seja também português. Triste vocação! "
2 comentários:
Isabel
comigo acontece o mesmo. Não gosto habitualmente do Barreto, mas estas palavras são certeiras.
Isabel,
A globalização educativa não é de hoje, iniciou-se no pós-guerra com a exportação do modelo ocidental, europeu-atlântco, de escola para o Terceiro Mundo por via da Unesco e da OCDE.
É um fenómeno dos anos 50 e 60, tempos áureos da exportação das teorias do Capital Humano para o desenvolvimento e seguiu-se à descolonização.
Agora apenas estamos numa fase de "colonização interna".
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