NOTA PRÉVIA: Não pretendo reproduzir com precisão palavras de Eduardo Lourenço na última parte da entrevista ontem na SIC (não as anotei), nem sequer traduzir fielmente pensamento seu; a nossa mente receptora reinterpreta subjectivamente de acordo com a sua disponibilidade ou até necessidade.
De súbito, vem-me esperança renovada - esperança nos jovens, nas novas gerações de jovens.
"Cada geração só transmite à outra aquilo que ela não é"
"Cada geração só transmite à outra aquilo que ela não é"
Sim, parece-me que cada geração 'velha' já não é transmissora: A nova geração recebe (ou adopta?) não o que foi ou é da de seus pais, mas o que não é.
Os jovens de hoje juntam-se, fazem 'ajuntamentos', para estarem acompanhados - uma juventude que não sabe o que a espera. Vazios de um sentido...? Ou despojados de um sentido? Ou carentes de um sentido? Ou para encontrarem um sentido colectivo?
Não sei. Eduardo Lourenço ontem falou de triunfo do niilismo e definiu a crise ocidental como essencialmente crise de sentido civilizacional. O meu pedido de desculpa por eu não ter tido tempo para apreender (e o entrevistador não lhe deu mais tempo) se deixou uma mensagem de esperança... de esperança nos jovens, mas falou de um talvez nostalgia de qualquer coisa, ou talvez simplesmente um recomeço. De qualquer modo, fez-me ficar a pensar neles - nos jovens de hoje -, e não acredito que os jovens deixem de procurar um sentido, não acredito que deixem ou desistam de (re)construir um sentido para a humanidade.
Não me detenho a explicar (ou a explicar-me) porquê. Fiquei, de súbito, com uma nova esperança.
6 comentários:
Também ouvi Eduardo Lourenço, das vozes mais lúcidas que temos tido e Portugal.
Amélia, também tenho essa ideia, apesar da falha de o ter lido relativamente pouco.
Olá Isabel, eu acho que não há juventude mas sim juventudes e que as suas diferenças provêm das condições objectivas em que cada uma delas está inserida socialmente.
Acho tb que as crises de valores morais derivam em primeira instância das crises de valores materiais, embora tenham tb a sua autonomia.
E que esta crise de que tanto se fala, poucos dizem que ela é, realmente, uma crise de sobreprodução típica do capitalismo. Actualmente o que realmente existe é uma capacidade produtiva imensa, cerceada pelas relações de produção capitalistas que não a querem nem podem utilizar. A imagem que o poder quer dar para o público é que temos uma crise como a do antigo regime, marcada pela incapacidade produtiva: por isso falam tanto, demagogicamente dos factores demográficos. Um facto demonstrativo: recusam a aposentação e adiam-na pois dizem que o rácio aposentados/contribuintes está a diminuir e que é o motivo das medidas que tomam. Esquecem-se de que assim, impedem a entrada de jovens no mercado de trabalho o que melhoraria esse mesmo rácio. E esquecem-se de dizer que a produtividade do trabalho tem aumentado imenso, fruto sobretudo da integração das novidades cientificas, técnicas e de gestão, o que contrabalança sem problema nenhum o tal problema demográfico. Esse aumento permitiria, se a nossa sociedade fosse gerida para o bem de todos, diminuir o tempo de trabalho e distribuí-lo por todos.
Olá Henrique! É sempre um prazer 'ver-te' :)
Tu estás certo, mas sabemos que a nossa sociedade ser gerida para o bem de todos é, de momento, uma utopia. Cá, nunca tivemos (depois do 25 de Abril)um governo tão à direita, tão neoliberal (convicto, não forçado), pelo que julgo saber. E, na Europa, a tendência dos votos nas eleições tem sido o que temos visto. Se isso aconteceu por erros ou incapacidades da esquerda (melhor dizendo, da 'menos direita') não sei - já não me sinto capacitada para dizer.
Sou mais nova do que Eduardo Lourenço, mas ainda sou da geração que, como ele disse na entrevista, nasceu com ideais. E, seja ou não pela(s) crise(s) de valores materiais, como dizes, afigura-se-me que estamos numa Europa em crise de valores morais, éticos, humanistas, como se lhes queira chamar. E cá em Portugal tem-se assistido a uma tal impunidade das mais variadas formas de corrupção/crime, que todos vêem ou sabem mas não reagem.
Por sentir tudo isso tão agudizado é que me resta a esperança naqueles, das jovens gerações, que sintam na pele a necessidade de reagir (isto não só cá).
Mas já estou velhota, e também com falta de referências (existem, mas são escassas).
Os teus comentários são sempre bem-vindos.
Isabel, uma sociedade para todos com qualidade, hoje, não é nada uma utopia, é uma realidade bem possivel. Por saberem isso é que os poderes da direita real ou disfarçada se dão tanto ao trabalho de enganar com argumentos falsos e utilizando os meios de comunicação/"educação" tão poderosos de que dispõem.
Eu tb tenho ideais, mas tenho a noção que os ideais nascem em primeiro lugar da análise da realidade. Não li o texto que referencias mas já li alguma coisa do Eduardo Lourenço. Faz-me uma certa impressão quando se fala de Portugal ou dos portugueses como uma realidade una e quando se generalizam as ideias sobre Portugal, os portugueses ou a juventude. Os jovens filhos bem dos nossos possidentes são bem diferentes dos filhos da nossa classe operária. Um português que é director de um banco é bem diferente de um professor e ainda assim como sabemos há professores que pensam o contrário de outros professores.
Henrique, eu disse 'utopia, de momento'. Nunca deixei de saber/acreditar que é possível. :)
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