A hora do cansaço
As coisas que amamos,
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade.
Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra (maior) realidade.
Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nos cansamos, por um ou outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.
Do sonho de eterno fica esse gozo acre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.
Carlos Drummond de Andrade
_______________
* Foi-me facultado pela Amélia Pais
6 comentários:
Dói, Isabel! Um beijinho
O cansaço...um inimigo terrivel...
Este poema deixa me quase sem palavras. Dói mesmo pensar na efemeridade das coisas... e de nós.
Beijitos IC e ate breve
POis...
Beijinhos
a imagem da moldura de granito é fortíssima.
o rebaixar do amor ao seu estado utilitário é tristíssimo...
***
Lindo..Bom fim de semana.Bjs
Será mesmo assim?... Sempre assim?
Há pessoas que amamos que são eternas. Há outras que não. Mas há umas que sim... não tenho dúvidas disso. E talvez nunca venha a ter. Talvez não seja apenas alguma inocência a falar por mim.
Talvez não...
Um beijinho grande IC. Fica bem. ;)
Enviar um comentário