sexta-feira, julho 13, 2012

"Primeiro levaram...... Não era nada comigo"

Vieram 120 mil... Todos eram atingidos, vieram quase todos.

Agora levam milhares...  _mas não sou contratado, não é nada comigo
Agora outros milhares apanham com uma coisa que se chama "horário zero"..._' mas não acredito que me possam despedir  ("depois lavaram-me a mim, mas já era tarde")

Aquela avaliação atingia todos. Vieram quase todos (muitos  pelos moldes dessa avaliação, alguns porque, secretamente, não  queriam avaliação nenhuma)

Tu, que agora preferiste não ter o incómodo de vir, não te moves por solidariedade, mas... também não te moves pelo descalabro da Educação que recai sobre os teus alunos?  Não te moves por causa dos mega agrupamentos e das mega turmas?  Nem pelas razões que levam milhares de colegas teus ao desemprego? Não são precisos??!!  A dita "reforma curricular", que dispensa a formação integral das crianças e adolescentes (e, por isso, dispensa hoje milhares de colegas teus) não te preocupa e revolta?

terça-feira, julho 10, 2012

Só nas Honduras?...

A liberdade é isto?

Carlos, um rapaz das Honduras, é uma das cerca de quarenta milhões de crianças que, por não terem lar, vivem abandonadas à sua sorte nas ruas das cidades latino--americanas. Muitas delas ainda têm pais, mas estes são tão pobres que não podem tomar conta dos filhos. Há cinco anos que Carlos ganha o sustento como engraxador de sapatos. Não é nada fácil sobreviver.

O meu maior problema é dormir. Não é nada fácil encontrar um lugar seguro onde não seja incomodado. Eu não quero juntar-me a nenhum bando e começar a roubar. Isso não é futuro. Mas como não estou em nenhum bando, também não tenho ninguém que me proteja. Às vezes é horrível não ter ninguém no mundo que goste de mim. É preciso ser-se muito forte para aguentar.

Há dias em que tenho a impressão de que toda a gente me detesta. Alguns olham-me, furiosos, quando pergunto: “Quer engraxar os sapatos?” Outros insultam-me porque estou sujo. Mas já me habituei a ser insultado só por ser pobre. A vida na rua é difícil. Quando comecei a trabalhar, havia rapazes mais velhos e mais fortes que me tiravam o dinheiro todo e até me batiam. Os polícias também me bateram várias vezes. Uma vez, meteram-me num lar, mas era como estar numa prisão. Ao fim de algumas semanas, fugi. A maioria das pessoas não fala comigo quando me manda engraxar os sapatos. Lê o jornal ou olha em frente. Mas também há quem me diga: “Dá-te por feliz por poderes viver em liberdade, por ninguém te dar ordens”, ou coisas parecidas. Isto põe-me furioso.

É liberdade ter fome?

É liberdade não poder ir à escola por ter de trabalhar?

É liberdade não poder aprender uma profissão e ser talvez condenado a passar a vida inteira na rua?

Hannelore Bürstmayr

Grün wie die Regenzeit

Mödling, Verlag St. Gabriel, 1986

(Tradução e adaptação)
Via Clube das Histórias