sábado, setembro 25, 2010

Onde está escondida a Felicidade

Um dia, no princípio dos tempos, alguns demónios reuniram -se para fazer uma diabrura.
Um deles disse:
Estava a pensar que poderíamos tirar algo aos humanos, porém... O quê?”

Depois de muito pensar, um deles respondeu:
Já sei!, poderíamos tirar-lhes a felicidade...   Porém, claro, o problema será onde escondê-la,   para que não possam encontrá-la”.
Propôs o primeiro demónio: "Vamos escondê-la em cima do monte mais alto do mundo...!
...do que imediatamente discordou um outro:  o, lembra-te que eles têm força e vontade. Algum dia, alguém poderá subir e encontrá-la, e se um a encontra, pronto! Todos saberão onde está".
Logo propôs outro: "Então, vamos escondê-la no fundo do mar!”.
E outro contestou: "Não, lembra-te que eles têm curiosidade. Algum dia, alguém  construirá algum aparelho para poder baixar até o fundo e, então, encontra-la-á".
Um outro deles disse: "Escondamo-la num planeta longe da Terra!".
Disseram-lhe: "Não, lembra-te que eles têm inteligência. Um dia, alguém construirá uma nave para viajar para outros planetas e, então, descobri-la-ão".

Um dos demónios tinha permanecido em silêncio, escutando atentamente as propostas.
Então, disse: "Creio saber onde devemos colocá-la para que nunca a encontrem".
Todos o olharam e perguntaram ao mesmo tempo: “Onde?".
Escondamo-la DENTRO deles mesmos... Estarão tão ocupados a procurá-la fora que nunca a encontrarão".

Todos ficaram de acordo e, desde então, sempre tem sido assim.

Autor desconhedido

segunda-feira, setembro 20, 2010

domingo, setembro 19, 2010

E porque hoje é domingo... um pensamento

Já se disse que as grandes ideias vêm ao mundo mansamente, como pombas. Talvez, então, se ouvirmos com atenção, escutaremos, em meio ao estrépito de impérios e nações, um discreto bater de asas, o suave acordar da vida e da esperança.
Alguns dirão que tal esperança jaz numa nação; outros, num homem. Eu creio, ao contrário, que ela é despertada, revivificada, alimentada por milhões de indivíduos solitários, cujos actos e trabalho, diariamente, negam as fronteiras e as implicações mais cruas da história.
Como resultado, brilha por um breve momento a verdade, sempre ameaçada, de que cada e todo homem, sobre a base de seus próprios sofrimentos e alegrias, constrói para todos.

Albert Camus

(Citação "roubada" a Rubem Alves)


Fernando Reis

sábado, setembro 11, 2010

Neste blogue que ninguém lê...

Deixo mais abaixo uma homenagem para os professores (e são muitos) que continuam dedicados aos seus alunos fazendo deles a sua grande prioridade profissional, considerando que o seu papel primordial é na sala de aula investindo em métodos e estratégias estimulantes, motivadores e geradores, tanto quanto possível, de real sucesso para todos, ao mesmo tempo que assim contribuem também para minorar a indisciplina.

Entretanto, o título deste post não é inocente. Não é o meu blogue que me importa, mas já me importa a blogosfera docente, a qual poderia ter um importante papel de cooperação, partilha e enriquecimento. Salvaguardando excepções, poucas mas fantásticas, a sala de aula pouco parece existir. Contudo, é na sala de aula que os professores podem ser decisivos para a Educação e a Aprendizagem, para a Formação e o Futuro das crianças e jovens. Até porque a classe docente pode falar muito da política educativa perniciosa para o sucesso escolar dos alunos da Escola Pública, mas, sendo dificilmente mobilizável para a luta, ainda o é menos para a luta contra as condições degradadas e contra as medidas directamente lesivas dos alunos, ou pela reivindicação de medidas que verdadeiramente (e não falsa e demagogicamente motivada pelo economicismo e pela apresentação de estatísticas enganadoras) contribuam para uma formação de qualidade e para um sucesso real dos mesmos.

Para todos os professores/educadores a que me referi no início:

A Flower for the Teacher


Winslow Homer, A Flower for the Teacher

quarta-feira, setembro 08, 2010

Não sei se espero, mas desejo que poucos professores pensem assim...

Acabo de ler um comentário num blogue. Nada interessa qual o blogue e nadinha interessa quem fez o comentário. Porque este será irrelevante se for isolado. O que me pergunto é se há significativo número de professores que o subscreveriam. Desejo que não - caso contrário, ficaria desesperada.

"... aponta para um ensino diferenciado. Muito difícil, senhor professor, com turmas numerosas e outras variantes que tão bem conhecemos. Não vale a pena ir por aí, infelizmente." (Acentuado meu)

Tive imensas turmas numerosas, toda a vida fiz "ensino diferenciado" e não tive nenhum esgotamento nem nada que se pareça.

Mas esclareçamos o que é e o que não é (ou não tem que ser) 'ensino diferenciado'. E até começo por dizer o que, de facto, tornaria impossível que o fosse. Impossível seria se se ensinasse para toda a turma com se todos os alunos fossem um só - o aluno médio - a quem se expõe matéria na maior parte do tempo. Mas deixemos essa impossibilidade porque não acredito que haja algum professor que (ainda) proceda assim.

Ensino diferenciado não é ensino individual nem tem que ser ensino individualizado.

Ensino diferenciado começa pela noção (que todos têm - não duvido) de que os alunos não são iguais e, portanto, precisam de tratamentos diferentes. «Enquanto não lidarmos conscientemente com as diferenças de que os alunos são portadores, tal como com as suas semelhanças, temos tudo a perder.» (Tomlinson e Allan, 2002:8)
"Diferenciar é não dedicar a todos a mesma atenção, o mesmo tempo, a mesma energia.» (Perrenoud, 2001:44) - ainda que de modo variável, consoante as necessidades dos alunos em cada momento, acrescento eu.
Diferenciar é planificar algumas aulas ou uma parte das mesmas de modo a que, enquanto uns alunos realizam trabalho autónomo, o professor se detém mais junto de outros (ou de um grupo) a quem são dadas propostas de trabalho ou tarefas adequadas, por exemplo, a recuperação em lacunas ou à ultrapassagem de dificuldades.
Diferenciar é também, por estranho que pareça, usar métodos cooperativos com grupos heterogéneos, o que gera a ajuda e a entre-ajuda.

Condições necessárias para ensino diferenciado: Aulas activas, centradas nos alunos, e movimentação do professor na sala de aula.

Nota: Antes de me acusarem disso de "eduquês", corrijam os disparates que se dizem e escrevem por cá sobre o significado de "ensino centrado no aluno".

Il silenzio

segunda-feira, setembro 06, 2010

TIC... mais TIC... e mais TIC no ensino

Nota prévia
O que se segue é escrito com absoluta isenção, pois fui pioneira, na minha ex-escola, na 'introdução do computador na sala de aula', no tempo em que os alunos não tinham "magalhães" e só tinha uma sala com os primeiros computadores que a escola conseguiu - sala para onde apenas eu levava as minhas turmas, sem problema de não estar vaga.
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Perdi-me com tantos "reajustamentos" no modelo da ADD, pelo que não sei bem se o uso das TIC ainda conta para a pontuação na avaliação dos professores, mas suponho que ainda conta.
Ora, um método de ensino não vale por si só, vale pelo que o professor fizer com ele. Não há padrões, muito menos um padrão único. O que me parece essencial é que o ensino-aprendizagem assente num método verdadeiramente activo, de modo a conduzir os alunos, sempre que possível, à (re)descoberta, e à construção da sua relação com o(s) saber(es). E seria um erro, a meu ver, que o professor, ao interiorizar isto, se forçasse a pôr em prática modelos/métodos que não sejam já significativos para si. Das teorias e dos artigos fundamentados que não faltam, o professor recolhe novas perspectivas, e o que delas fica nele é o que pessoalmente (re)constrói no alargamento e aprofundamento da sua prática, não na demolição de tudo o que já construiu no seu modo de ensinar.

Isto leva-me à questão da formação (sem dúvida urgente) dos professores no uso das novas tecnologias. É verdade que, actualmente, não estou a par do modo como essa formação decorre e de quem a dá. Mas lembro-me que, quando essa formação começou nos centros de formação, no âmbito da formação contínua obrigatória para obtenção dos créditos então indispensáveis para mudança de escalão, quem escolhia uma acção relacionada com as ditas TIC recebia uma formação meramente técnica, sem ligação à Pedagogia (apesar de o formador ser professor).
Claro que os professores têm que aprender os aspectos técnicos do uso de recursos informáticos - se não os souberem, caso que até já pouco sucederá com as novas gerações de docentes. Mas a formação tem que ser dada por pedagogos, por professores abertos à inovação e conscientes de que o uso de recursos informáticos nas aulas em nada melhora as aprendizagens dos alunos se esses recursos forem usados na manutenção de um ensino tradicional, expositivo, em que os alunos não são chamados a construir, a criar, a serem agentes activos.
E é para isto que o formador tem que estar apto a sensibilizar os formandos e a dar-lhes perspectivas de recursos diversos a fim de que cada um possa sentir apelo e motivação de acordo com a sua apetência, de acordo com o que seja mais significativo para si próprio, de modo a sentir-se atraído pela inovação ou pelo desejo/necessidade de mudança face a eventuais (ainda há muitos - demasiados) métodos retrógados anquilosados.

A finalizar, deixo o pedido a quem eventualmente me leia e esteja informado, de me esclarecer: Estão a ser assim, generalizadamente, as formações dos professores no uso das TIC? (Digo generalizadamente porque não duvido de que há formadores nessa área - e até conheço dois ou três - que é nessa perspectiva de real mudança que se esforçam por sensibilizar os seus formandos).

Pensamento



Le courage, c'est de chercher la vérité et de la dire

Jean Jaurès (1859-1914)



Com o agradecimento à Amélia Pais



Emílio Merlina (2007). Truth

sábado, setembro 04, 2010

Não há receitas, mas certos ingredientes ajudam...

Não há receitas para socializar e melhorar os comportamentos dos alunos problemáticos, mas há ingredientes importantes a usar.
Foi há uns anos. Algumas turmas preparavam, sob a orientação dos directores de turma ou de outros professores, uma festividade para o último dia do 2º Período Lectivo. Ia haver uma peça de teatro, exposição de trabalhos e outras iniciativas, e a festa ia prolongar-se para a noite pois os pais estavam convidados.
Na aula da Ana um dos alunos mais problemáticos da escola lembrou que era preciso uma boa vigilância para não haver desacatos e tudo correr bem. E a Ana veio logo ter comigo, não só para me contar de quem tinha vindo aquela "preocupação", mas também já com uma ideia na cabeça (éramos almas gémeas nestas coisas). Fomos ao então chamado Conselho Directivo pedir autorização para levarmos à prática a ideia que eu logo tinha perfilhado.
Eram conhecidos os alunos mais "cadastrados" da escola e nós já tivéramos algum contacto com eles, mesmo não sendo nossos alunos. Escolhemos os mais velhos para os convocar para uma pequena reunião connosco e o pretexto/justificação foi o de serem os mais crescidos, portanto os mais aptos para a missão que pretendíamos (nessa altura ainda só tínhamos 2º Ciclo na escola e, por terem todos repetências, tinham já 15-16 anos). Perguntámos se poderíamos contar com eles para colaborar na vigilância e também para estarem atentos e irem em socorro de algum dos pequenotes que tinha tarefa na festa e se visse atrapalhado nessa tarefa. Propusemos que tivessem uma braçadeira a identificar a sua missão.
Disseram que sim e que podíamos ficar descansadas, ao que respondemos que se não confiássemos que podíamos ficar descansadas desde que se comprometiam, não lhes tínhamos pedido essa ajuda.
Estávamos a usar uma táctica, sim, mas isso é irrelevante. O importante é que estávamos a ser sinceras, acreditámos neles (e "eles" sentem isso).
Correu muito bem (para espanto dos adultos). Foram impecáveis na sua responsabilidade e não se "armaram" em mandões.
(Claro que a Ana e eu estávamos, de longe, atentas a eles, mas... foi mais um daqueles casos em que, apesar de sinceras boas expectativas, "eles" as ultrapassam)

ADENDA
No início do ano lectivo seguinte propusemos que fossem escolhidos alunos dos mais velhinhos, incluindo os "problemáticos", para, rotativamente, ajudarem na vigilância e sobretudo no apoio aos pequenotes recém-chegados, mas a nossa proposta apenas foi considerada "gira" pelo Conselho de Directores de Turma, sendo, no entanto, rejeitada por qualquer coisa como complicada ou utópica (já não me lembro bem)
E dispenso-me de comentar esta adenda.

homens artificiais cheirando rosas de plástico

Soneto na morte do homem que inventou as rosas de plástico

O homem que inventou as rosas de plástico morreu.
Reparem na sua importância:
as suas flores imperecíveis e imaculadas nunca murcham
mas resolutamente velam o seu túmulo através da escuridão.
Ele não compreendeu a beleza nem as flores,
que enredam os nossos corações em redes suaves como o céu
e nos prendem com um fio de horas efémeras:
as flores são belas porque morrem.
A beleza sem o seu lado perecível
torna-se seca e estéril, um palco abandonado
com uma floresta de enganos. Mas a realidade
dá razão à invenção deste homem; ele conhecia a sua época:
uma visão do nosso tempo impiedoso revela-nos
homens artificiais cheirando rosas de plástico.

Peter Meinke


(Via Amélia Pais)

sexta-feira, setembro 03, 2010

A preocupação...

Foi há mais de três anos. À mesa de jantar familiar, conversávamos na brincadeira com o meu neto (então no 8º ano) sobre a adolescência. Às tantas, veio a propósito, perguntei-lhe: _Qual é a tua maior preocupação? Resposta quase imediata: _ Não adormecer numa aula.

Risos, ao mesmo tempo perplexos.

_Não estou a brincar, é verdade. Tenho aulas em que faço um esforço tão grande para manter os olhos abertos e, mesmo assim, de vez em quando fecham-se. E se eu adormeço mesmo, com todos a verem?


Por motivo de morada, já fez o 9º ano noutra escola, onde permanece, agora prestes a começar o 12º. Felizmente (ou sorte)... não voltou a ter tal preocupação.


Razão daquela? Ele mesmo explicou: _Nalgumas disciplinas os professores e professoras falam todo o tempo. Eu ainda perguntei: _E não vos fazem participar, não vos vão fazendo perguntas? Resposta: _Só às vezes.


Eu e a mãe preferimos mudar de conversa. Também não a vou continuar aqui, mas os amigos que me lerem podem contar, na sala de professores, esta história da grande preocupação de um adolescente num ano lectivo. Porque a verdade é para dizer: Ainda há quem passe boa parte das aulas a expor para uma turma passiva. Ou talvez não tão passiva assim, pois os alunos em geral não adormecem; resolvem a questão conversando indisciplinadamente uns com os outros. São uns indisciplinados!!!


ADENDA

Antoine de La Garanderie, num livro de que não lembro o nome, punha na boca dos alunos estas palavras: "Professor, não nos diga para estarmos atentos, diga-nos antes como devemos fazer para estarmos atentos". Parafraseando La Garanderie, eu diria: Professor, não nos diga para estarmos atentos, venha antes às nossas mesas guiar as nossas actividades.

(Com muitas saudades)

quinta-feira, setembro 02, 2010

(Re)Acordar o Educador para um ano escolar diferente


Professores, há aos milhares. Mas professor é profissão, não é algo que se define por dentro, por amor.
Educador, ao contrário, não é profissão; é vocação. E toda vocação nasce de um grande amor, de uma grande esperança.


De educadores para professores realizamos o salto de pessoa para funções.

Eu me atrevo a dizer que o fantasma que nos assusta e que nos causa pesadelos mesmo antes de adormecer, o fantasma que nos faz contar, apressados, os anos que ainda nos faltam para a aposentadoria, é a absoluta falta de amor e paixão, o absoluto enfado das rotinas da vida do professor.
São causas como esta, a aposentadoria do professor, que nos mobilizam. Não me entendam mal. Não vai aqui uma crítica. Vai apenas uma constatação: como deve ser sem sentido a vida de alguém que, após vinte e cinco anos, se sente exaurido!

Por que nos esquecemos dos nossos sonhos? Que ato de feitiço fez adormecer o educador que vivia em nós? Aqui é fácil encontrar explicações apontando para os donos do poder: foram eles que nos castraram. Tenho, entretanto, a suspeita de que esta não é toda a estória a ser contada. Pergunto-me se nós mesmos não preparamos o caminho. Quando os ferros em brasa nos marcaram, não é verdade que já éramos bois de carro?

A um discurso que não é uma expressão de amor falta o poder mágico de acordar os que dormem, falta o poder mágico para criar.
E eu pensaria que o acordar mágico do educador tem então de passar por um ato de regeneração do nosso discurso, o que sem dúvida exige fé e coragem.

Talvez que um professor seja um funcionário das instituições que gerenciam lagoas e charcos, especialista em reprodução, peça num aparelho ideológico de Estado. Um educador, ao contrário, é um fundador de mundos, mediador de esperanças, pastor de projetos.

Não sei como preparar o educador. Talvez que isto não seja nem necessário, nem possível... É necessário acordá-lo.
E aí aprenderemos que educadores não se extinguiram.

Excertos de texto de Rubem Alves em Conversas com quem gosta de ensinar.

quarta-feira, setembro 01, 2010

Regresso

Início de novo ano escolar... Decidi retomar o meu blogue como (ex)professora/educadora.

É pouco provável que retome memórias, e talvez raramente aborde a política educativa pois é pouco previsível que ela deixe de ser um deserto em cujos "oásis", aqui e ali , só brotam ervas daninhas.

São as salas de aula que me interessam, pois elas têm muito poder (para o bem ou para o mal), e é nos alunos que continuo a pensar - e com muitas saudades.
Os tempos são outros, os alunos são outros, os pais são outros, os professores são outros e também os recursos são outros - estes muitos mais do que no meu tempo de prof. . Mas estou convicta de que as minhas ideias essenciais não se desactualizaram. Outros as expressam melhor do que eu, pelo que prevejo deixar mais mensagens escritas por outrem do que por mim própria. Ideias, mensagens, propostas, alertas... enfim, elementos insistentes de reflexão para quem me visite - raros decerto, mas cada um tenta dar o seu grãozinho de voz e... são precisas tantas vozes! Mesmo que a minha não chegue a alguém, passei a vida profissional sem me calar... agora tenho-me sentido mal a andar tão calada neste cantinho.