sexta-feira, outubro 26, 2007

A escola básica com os piores resultados nacionais em Português

ou

De acordo com a notícia, terá sido a escola básica com piores resultados na disciplina de Português. Mas, como também nos revela a mesma notícia (ler aqui), o trabalho por ela realizado é frutífero e exemplar.
Este é um pequeno exemplo do que as estatísticas não mostram. Mas o que interessa mostrar ao público, neste momento da febre de números que ameaça contagiar também professores, não parece ser a realidade que está por detrás das estatísticas, menos ainda o trabalho abnegado e persistente de muitos dos docentes que trabalham em contextos sociais altamente desfavorecidos. O que se impinge, em primeiras páginas, são os rankings a enaltecerem escolas para elites abastadas e seleccionadas - escolas privadas, claro.

terça-feira, outubro 23, 2007

Flores

Quando ando arredia da escrita, gosto de deixar o meu cantinho bonito.
Podem levar uma rosa ou uma anémona, elas não se gastam - estas são imortais ;)

Van Gogh (1890). Roses et Anémones

domingo, outubro 21, 2007

O Poder dos Professores

Esse é o título do Círculo Aberto, do JMA, no último número do Correio da Educação. Sugiro vivamente a leitura - pode ser lido aqui. (Sugiro não só a leitura, como também a participação na procura de caminhos face às questões colocadas)

terça-feira, outubro 16, 2007

Intervalando...


Falas de civilização, e de não dever ser,
Ou de não dever ser assim.
Dizes que todos sofrem, ou a maioria de todos,
Com as cousas humanas postas desta maneira.
Dizes que se fossem diferentes, sofreriam menos.
Dizes que se fossem como tu queres, seria melhor.
Escuto sem te ouvir.
Para que te quereria eu ouvir?
Ouvindo-te nada ficaria sabendo.
Se as cousas fossem diferentes, seriam diferentes: eis tudo.
Se as cousas fossem como tu queres, seriam só como tu queres.
Ai de ti e de todos que levam a vida
A querer inventar a máquina de fazer felicidade!


Alberto Caeiro

segunda-feira, outubro 15, 2007

Para lá do sistema educativo

O sistema educativo é o tema central para nós, professores. Mas há que estender para além dele uma consciência atenta e lúcida.

Sabemos que a política educativa entre nós não é mais do que a cópia subserviente dos ditames da globalização e, muito em particular, da União Europeia. Entretanto, as interrogações sobre o estado de saúde (ou de falta de saúde) da democracia são bem mais latas do que as questões específicas da Educação.

Eu até nem gostava muito dos artigos de António Barreto, mas ultimamente tenho gostado.
Deixo excertos do seu artigo de ontem, no Público, (destaques meus) podendo ser lido na íntegra aqui.

"(...) os governos da União preparam-se para aprovar, esta semana, em Lisboa, ou mais tarde em qualquer outra capital, a absurda Constituição, ora rebaptizada de Tratado. (...) O Tratado é tão diferente da Constituição derrotada como um ovo branco é diferente de um branco ovo. (...) A elaboração deste Tratado foi feita em circuito fechado. A discussão em segredo. A aprovação será furtiva. Para os dirigentes europeus, a União é mais importante do que a democracia. E a Europa mais importante do que os povos europeus.
Evitar os referendos, despachar a aprovação do Tratado e contornar o debate público são as prioridades de quase todos os dirigentes europeus. Que não se esquecerão, depois, de carpir sobre o "défice democrático europeu" e a "distância crescente entre dirigentes e cidadãos". (...)
Tarde ou cedo, haverá acordo e Tratado. E quase todos estão disponíveis para evitar os referendos e proceder, assim, sem a voz dos povos, à liquidação dos parlamentos nacionais. Estes serão, de futuro, tão importantes como uma Associação de Antigos Estudantes ou como a Confraria do Besugo. Os dias que aí vêm são o princípio da morte da democracia nacional. Sem que haja uma democracia europeia que a substitua e a melhore. É pena que a presidência portuguesa seja a agência funerária. Que o primeiro-ministro português seja o mestre-de-cerimónias. E que o cangalheiro, presidente da Comissão, seja também português. Triste vocação! "

quarta-feira, outubro 10, 2007

escola e cultura...

"Num tempo e num lugar de descasos sucessivos e clamorosos em relação à cultura (...)" - assim começa o artigo de Vasco Graça Moura no DN de hoje (foi-me enviado pela Amélia Pais, mas pode ler-se aqui , embora eu pretenda destacar as suas frases iniciais e finais). E, a propósito do Panteão Nacional e da recente trasladação de Aquilino Ribeiro, Graça Moura refere o "panteão da memória" como requerendo "menos pompas oficiais do que bons programas escolares", e termina: "O panteão da memória é uma pedra angular desse sistema em que todos somos responsáveis. A escola não pode ser transformada em panteão da... desmemória!".

Vem isto a propósito do rumo que cada vez mais os seguidismos político-ideológicos de governos, em particular do actual e da sua equipa do ME, vêm impondo à nossa escola pública. Que fazer (?) para contrariar esse rumo fazendo prevalecer a importante e decisiva prioridade da escola, prioridade que o Miguel Pinto tão bem define nesta sua crónica
aqui - "realizar a inserção dos sujeitos na cultura" .
Que fazer? Como fazer para contrariar o rumo para que estão empurrando a escola - o de uma escola essencialmente utilitária na perspectiva dos interesses do mercado (e, mesmo assim, de forma duvidosa)?

Mantendo-me hoje em citações, lembro-me do título
Pedagogia: o dever de resistir , de um post do JMA, que tem insistido em que os professores têm mais poder do que pensam ter, e deixo no ar também a pergunta: Como organizarem esse poder?

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Adenda
(13-10.2007)

Bom fim de semana!
Estou com pouca inspiração e, como ainda não tive resposta à pergunta acima, vou deixar o post uns dias a marinar ;)

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terça-feira, outubro 09, 2007

Breve aparte - Destaque de imprensa

Analfabetos... mas diplomados - de Santana Castilho, no Público de hoje.
Como só está acessível online para assinantes, copiei para aqui para quem não tenha lido.

segunda-feira, outubro 08, 2007

Memórias do uso das TIC na sala de aula - III

A fase do computador como factor de motivação

A minha escola acabara de receber sete computadores devido a uma candidatura mediante projecto. Ficou, pois, com uma sala de Informática e foi logo incluída no currículo do 6º ano a disciplina de "Iniciação à Informática", a funcionar em desdobramento das turmas.


Essa disciplina deixava suficientes tempos livres na sala para que pudesse ser requisitada para outras aulas. Não tive dificuldade durante esse e os aninhos seguintes (até à minha aposentação), pois comecei por ser quase o único professor da escola que a requisitava e, mais tarde, quando outros (não muitos) o faziam para a Área de Projecto, tivemos mais uma sala apetrechada com computadores na sequência da introdução da disciplina TIC no currículo do 9º ano, do qual tínhamos só ora duas, ora três turmas. (Hoje essa situação de facilidade não se verificaria, é um tipo de situação própria de fases iniciais nas quais começa por haver apenas uns poucos pioneiros, mas agora há os portáteis - e quanto a ter o professor um só computador na sala de aula para seu uso poderá ser bastante útil noutras disciplinas, mas para a minha pouca utilidade teria, a meu ver)

Nessa minha primeira fase, eu não deixava de ter a perspectiva do uso dos computadores pelos alunos como meio propício à construção, produção, criação pelos próprios, mas eram poucas as unidades do programa da disciplina que se prestavam a isso, tanto mais que não tinha software específico para a matemática. Assim, comecei a deslocar de vez em quando a aula para a sala dos computadores também para meros exercícios que só diferiam de exercícios de rotina da aula pela interactividade, o ambiente visualmente atraente e por darem automaticamente a pontuação obtida pelos alunos, o que conferia algum carácter de jogo/desafio. Mas, nessa altura, eram raros os meus alunos que tinham computador em casa, este era novidade para a maioria, todos sem excepção ficavam contentes e entusiasmados quando eu anunciava que teríamos a aula na sala dos computadores.

Foi, pois, uma fase em que também usei o computador como quase mero elemento sedutor - como factor de maior gosto ou de motivação para os menos motivados. Tinha algum trabalho acrescido, até porque inicialmente ainda não tinha descoberto esse prático e fácil recurso que era (e é) o HotPotatoes, preparando as actividades com base no FrontPage mas com inclusão de códigos buscados na net. E os alunos gostavam muito, não se importavam de se sentarem incomodamente em grupos e organizavam-se muito bem para corresponderem à minha exigência de que todos participassem (o que controlava e verificava, claro).


Mas, como já disse, essa foi uma fase. Toda a vida considerei que os alunos não precisam de ser infantilizados, puxar/desafiar com o devido apoio e confiança sempre foi uma constante que me deu muitas oportunidades de constatar que não só correspondiam quase sempre às minhas expectativas, como as excediam bastantes vezes.

Assim, aquele tipo de actividades/exercícios passaria a ser reservado para aulas de final de período, para descontracção, bem como para o contributo do meu departamento para as actividades não curriculares de escola no último dia do período lectivo.

Deixo umas recordações (print screen)...




(O primeiro da Páscoa não era só para a Matemática, pedi perguntas a outros professores)


Da minha fase seguinte falarei noutro post.

domingo, outubro 07, 2007

Memórias... (?)

Memórias... Eu nem sou dada a deter-me muito em memórias, menos ainda a viver de recordações. Memórias do ensino eram também as da véspera, as das aulas e dos alunos que tinha, e isso faz-me falta para continuar a escrever.

Diziam-me amigas aposentadas antes de mim que, após o primeiro ano da aposentação, o interesse e o sentimento de envolvimento com as questões da escola iam desaparecendo, ficando apenas uma atenção à política educativa ao nível da atenção à política geral, não mais do que isso.

Ora, para mim esse ano já passou, e o "bichinho" da escola ainda não me fugiu. Talvez, em parte, porque tenho netos em idade escolar - o seu futuro não deixará de ser influenciado pela escola que temos -, motivo para esta me continuar a preocupar mesmo que outros motivos não tivesse, mesmo que desistisse de me preocupar com o futuro deste nosso país.
Sem dúvida que a blogosfera facilita muito que continue a acompanhar em pormenor as medidas da política educativa, a participar em debates, e também a sentir o estado de espírito dos professores. No entanto, faltando-me o principal, que são os alunos, não sei, não sei não até quando manterei este cantinho, mesmo com postagens espaçadas como assumi aqui que passaria a ser.

Mas não vale a pena antecipar conjecturas sobre isso - a seu tempo, logo verei. Entretanto, para já vou retomar o conjunto de três ou quatro memórias sobre o uso das TIC no ensino, que interrompi por outros motivos - motivos de saúde que são temporários, embora me mantenham ainda pouco disponível, mas sem, na verdade, haver propriamente razão para me alhear.