domingo, abril 29, 2007

A propósito do artigo "Professores confessam ângustias em blogues"

Já que fui citada no artigo da jornalista Ângela Marques publicado hoje no Diário de Notícias (aqui), trasncrevo na íntegra o texto do meu e-mail em resposta ao pedido da minha opinião sobre o crescente uso de blogues por professores.

«Olá, Ângela Marques

Vou tentar dizer rapidamente o que penso, mas fico à disposição para algumas questões concretas que eventualmente queira colocar. E vou referir-me apenas aos blogues de professores que são assumidos como tendo por temáticas essencias as relacionadas com educação-ensino (ensino não superior).
Não me detenho no importante e óbvio aspecto geral de a blogosfera ser um espaço de liberdade de expressão e de opinião públicas aberto a todos os que o queiram utilizar.

Começo por salientar a importância de um tipo de blogues de professores voltados principalmente para a partilha de experiências e práticas, cujos autores são professores que procuram sempre inovar, que procuram novos recursos nomeadamente no campo do uso das TIC no ensino, e que partilham as suas experiências, interrogam, avaliam e proporcionam nessa partilha enriquecimento para todos os que os lêem, quer para os que também partilham as suas, quer sobretudo para os professores mais novos, dos quais há já bastantes testemunhos do apreço pelo que aprendem com outros já mais experientes. Há já bastantes blogues deste tipo, cito um apenas a título de exemplo - O Tempo de Teia:
http://tempodeteia.blogspot.com/ .
Ainda neste âmbito, há também blogues cujos autores, dominando bem as TIC, têm principalmente (ou até exclusivamente) o objectivo de divulgar os novos recursos aplicáveis ao ensino que constantemente estão a surgir, e que são preciosos para os professores que, não tendo tido uma formação nesse campo, desejam actualizar-se dado que se torna urgente a generalização do uso desses recursos, aliás motivadores para os alunos. Um exemplo: O Educação, Matemática e Tecnologias (não só recursos aplicáveis na Matemática, apesar do título):
http://blog.joseoliveira.net/

Passando para outro tipo de blog mais voltado para a política educativa e para a análise das novas medidas, é natural que encontre crítica, mas é também aí que se encontram publicadas a análise e a opinião dos que estão no "terreno", são os professores quem conhece bem este, mas são os professores precisamente os que raro espaço têm na comunicação social para serem ouvidos, mesmo quando na comunicação social são denegridos, acusados, todos metidos no mesmo saco.
Entre estes blogues, há blogues de bastante qualidade, cujos autores escolheram o ensino por vocação e, muitos, por paixão mesmo, e a exposição e debate de ideias é sempre importante como dinamização do pensamento e da reflexão, para o que há cada vez menos espaço e tempo dentro das escolas devido à catadupa de papelada e tarefas burocráticas que tem caído nas reuniões dos diversos orgãos da escola. E, se haverá professores cujos blogues possam denotar mais preocupação com a situação profissional dos docentes, outros há cujas temáticas de discussão são na defesa da escola pública e na preocupação com os alunos (os alunos todos).

Pronto, já disse o suficiente para mostrar que considero positivo o crescente interesse dos professores pela blogosfera. Como em tudo, há qualidade melhor e qualidade menor.

Mas quero ainda referir um outro uso crescente do blog pelos professores, que é a criação de blogs de turmas. Seja para a escrita de contos e poemas pelos alunos, seja para a divulgação de trabalhos destes, seja, no caso de turmas de anos mais avançados, para tratarem temas curriculares exigindo pesquisa ou proporcionando debate, etc. - o blog é motivador para os alunos e, através de um blog orientado pelo professor podem desenvolver várias competências.

Duas notas finais sobre duas observações suas:

1ª - Confesso que nunca vi dizer mal dos alunos em blogues. Mas é preciso ter em atenção dois aspectos. Um, é que há blogues de professores que são mesmo uma espécie de diário, tanto falam de outras coisas do quotidiano como das aulas, e creia que há muitos professores que quanto mais se preocupam com os alunos, mais se desesperam quando não trabalham, é natural que tenha encontrado desabafos. Outro aspecto, é que não se confunda a referência à perda de hábitos de trabalho e esforço, e à indisciplina, notoriamente crescentes nos últimos 10 ou 15 anos, com atribuição de "culpa" aos alunos. Os professores "bloguistas" mais considerados, quando referem isso, sabem e apontam que as causas são variadas, devendo preocupar toda a sociedade - pais, professores, governo, responsáveis pelos media (principalmente TV), ...

2ª - Pergunta se os blogues dos professores são lidos pelos alunos. Penso que terão pouca curiosidade por isso e, exceptuando os blogues que são criados para alunos, naturalmente que os professores não vão publicitá-los nas turmas, tal como nas aulas o que se deve é desenvolver competências de análise e de crítica fundamentada, não fazer a cabeça dos alunos com as ideias pessoais dos professores.

Desejo-lhe bom trabalho (que será decerto árduo, pois a variedade é grande e mesmo cada blogue não pode ser percebido quanto às suas temáticas predominantes por pequena amostra de postagens.

Com os melhores cumprimentos
Isabel Campeão, professora de Matemática aposentada desde Setembro último, blogue:
http://msprof.blogspot.com»

sexta-feira, abril 27, 2007

Os tempos livres das crianças

Continuo com muito pouca disponibilidade para "postar". Mas deixo a sugestão de leitura de um artigo que tem a ver com o título que dei a este post - Os ecrãs, a família e o quotidiano, de Manuel Pinto, em a Página da Educação.

quarta-feira, abril 25, 2007

33 anos depois...

... comemorar, sim, mas lutar também.






De tudo o que Abril abriu

ainda pouco se disse

e só nos faltava agora

que este Abril não se cumprisse.



Ary dos Santos (1975).
Pequeno excerto de As portas que Abril abriu.

terça-feira, abril 24, 2007

"Boys and girls need separate classes"

Que coisa, eu já tinha lido isto há quase quatro meses, e só agora é que a "novidade" chega cá?
(Por acaso tinha guardado o artigo, lembrei-me dele agora que estou a ouvir no noticiário da SIC esta ideia bombástica. Se alguém a quiser comentar, faça favor... - eu não comento, ando com falta de paciência)

domingo, abril 22, 2007

FENPROF

E agora que terminou o Congresso... Força, FENPROF!

(Se os professores assim quiserem. Não duvido da determinação dos dirigentes da FENPROF, mas a sua força dependerá sempre da firmeza e da luta a que os professores estiverem dispostos na defesa quer dos seus legítimos direitos, quer de um sistema de educação-ensino de qualidade e democrático)

sábado, abril 21, 2007

Uma dica (Sou conservadora no software)

Quando gosto de determinado programa e me habituo a ele, seja simples ou mais complicado de dominar, é-me difícil aceitar substituí-lo. Por exemplo, quanto a tratamento e montagem de imagens (fixas), ainda nada me convenceu a substituir o meu velho Corel PhotoPaint, apesar de me terem dado outro também óptimo e até ter tido o raro luxo de sessões (gratuitas) para lhe conhecer todas as funcionalidades sem andar a matar a cabeça. Mas não é nenhum programa assim desses mais complicadinhos de aprender a usar que venho referir.



Há necessidades correntes e básicas que não precisam de software complicado nem pago (ou "pirateado"). E, já que acabei de recuperar o meu velhinho visualizador gráfico - o IrfanView -, agora em versão actualizada, lembrei-me de deixar a dica para quem não o tenha. Tinha deixado de o instalar e até me esquera dele. É grátis e muito simples, mas tem várias funcionalidades que o tornam mais do que um mero visualizador (e pode ser configurado para abrirem com ele apenas ficheiros dos formatos que se desejem). Podem ver essas funcionalidades neste post aqui (foi esse post do Jazzit que mo recordou), ou aqui (pois pareceu-me que o 1º link funciona mal). Para download: IrfanView - graphic viewer.

quinta-feira, abril 19, 2007

Momentos...

Lembro-me ou não ? Ou sonhei ?

LEMBRO-ME ou não ? Ou sonhei ?
Flui como um rio o que sinto.
Sou já quem nunca serei
Na certeza em que me minto.

O tédio de horas incertas
Pesa no meu coração,
Paro ante as portas abertas
Sem escolha nem decisão.

Fernando Pessoa, Poesias Inéditas


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Feodor Vasilyev. Maré.

segunda-feira, abril 16, 2007

Uma memória do cinema

Chaplin faria anos hoje.
Já que o YouTube me permite guardar no meu cantinho imagens inesquecíveis, escolhi essas...




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P.S.
Uf!!! Tinha esta cena final do Tempos Modernos em rascunho e quando fui publicar... tinha sido retirada do YouTube! Mas eu tinha que encontrar essa cena, só levou um bocadinho de tempo ;)

domingo, abril 08, 2007

Um livro...

Embora este cantinho vá continuar em pausa, hoje fui movida por um post que descobri no blogue De Rerum Natura, post assinado por Carlos Fiolhais. Ressalvando que o texto de CF é mais lato do que o que aqui vou recordar como memória minha, emocionou-me a referência não só a Bento de Jesus Caraça, mas à obra cuja capa se vê no topo desse post:


Ignoro se ainda se encontram exemplares à venda de alguma reedição, a que tenho é esta:

Emocionou-me porque este livro foi uma obra que li sofregamente algures na década de 70. Sugiro-o vivamente, pelo menos aos professores de Matemática. Apesar da minha grande admiração por Bento de Jesus Caraça, limito-me a reforçar aqui a referência a esta obra. Um aspecto que nela me fascinou foi a perspectiva dialéctica com que o autor descreve várias evoluções na história da Matemática, nomeadamente no progressivo alargamento do campo dos números, na ultrapassagem de "impasses" gerando novas criações da mente humana no que respeita a conceitos matemáticos, inclusivamente os que se tornaram elementares. Outro aspecto que foi para mim muito interessante tem a ver com uma descrição que alia as novas criações aos contextos e necessidades sociais.

Do prefácio do próprio Bento de Jesus Caraça, datado de 1941, transcrevo a 1ª parte, intitulada Duas atitudes em face da Ciência:

«A Ciência pode ser encarada sob dois aspectos diferentes. Ou se olha para ela tal como vem exposta nos livros de ensino, como coisa criada, e o aspecto é o de um todo harmonioso, onde os capítulos se encadeiam em ordem, sem contradições. Ou se procura acompanhá-la no seu desenvolvimento progressivo, assistir à maneira como foi sendo elaborada, e o aspecto é totalmente diferente - descobrem-se hesitações, dúvidas, contradições, que só um longo trabalho de reflexão e apuramento consegue eliminar, para que logo surjam outras hesitações, outras dúvidas, outras contradições.
Descobre-se ainda qualquer coisa mais importante e mais interessante: - no primeiro aspecto, a Ciência parece bastar-se a si própria, a formação dos conceitos e das teorias parece obedecer só a necessidades interiores; no segundo, pelo contrário, vê-se toda a influência que o ambiente da vida social exerce sobre a criação da Ciência.
A Ciência, encarada assim, aparece-nos como um organismo vivo, impregnado de condição humana, com as suas forças e as suas fraquezas e subordinado às grandes necessidades do homem na sua luta pelo entendimento e pela libertação; aparece-nos, enfim, como um grande capítulo da vida humana social.

Será esta atitude que tomaremos aqui. (...)»