sexta-feira, junho 30, 2006

Mais intermitências

Feodor Vasilyev (1870). After a Heavy Rain.
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Andam irregulares as minhas visitas na "blogosfera docente" e, por vezes, visito em silêncio. Tal nada tem a ver com os blogs ou escritos de amigos e colegas. Também tenho escrito dividida entre o impulso dos dedos para as teclas e a vontade de dormir, ler, ir olhar o rio. Na verdade, tenho andado numa ressaca, não sei se de uma tempestade, se de um soco que levei na cabeça (ou de um grande soco que dei eu quando saía porta fora antes do final de um filme que até era apaixonante?), se, simplesmente, de uma bebedeira sem alcool, mistela qualquer para adormecer algum despontar de perguntas tais como 'Tempo queimado, anos inúteis por um ensino e por um país?', 'É gosto ou é parvoíce continuar a amar a profissão da minha vida?' Mas a ressaca está em vias de passar (sempre curei todas, e empenhada em o fazer com rapidez!).

Bem, isto foi só para prevenir ou explicar mais intermitências possíveis no meu estar aqui pela blogosfera. E não é pensamento negativo, antes é um jeito de o afugentar.
[Até não é a primeira vez que trago o 'caminho para relaxação', para ficar aqui no cantinho bem à frente da minha vista ;)]

Barbara Aliaga, Road to Relaxation

quinta-feira, junho 29, 2006

Num dia especial - II




É na quadra dos santos populares, no dia de um deles, dia de S. Pedro, o aniversário de minha mãe. Foi também numa rua chamada de S. Pedro que viveu parte de sua vida, como foi nessa Rua de S. Pedro que nasci, e vivi a minha infância. Por isso, hoje, deixo aqui essa rua e a que foi a nossa casa, aí mesmo à frente, à direita, num quadro de João Mário.

Num dia especial - I





É um dia muito bonito, quando se é mãe, avó e bisavó de quatro bisnetos.

Parabéns, Mãe
!

quarta-feira, junho 28, 2006

E para esquecer o Plano de Acção para a Matemática...

... Um visual novo (obrigada, Miguel) e um poema à Matemática.

Ai, o ponteiro da tortura

naquela sala

que a matemática tornava mais escura

em vez de iluminá-la.

Felizmente só o nada-de-mim ficava lá dentro

O resto corria no pátio-em-que-nos-sonhamos,

pássaro a aprender os cálculos do vento

aos saltos do chão para os ramos.

Mas só quando voltava para casa à tardinha

encontrava a minha verdadeira matemática à espera

na lógica dura das teclas do piano,

no perfil-oiro-pedra da vizinha,

na flauta de água macia do tanque

- chuva de Mozart nos zincos da Primavera...

Matemática cantante.

José Gomes Ferreira

Plano de Acção para a Matemática - III


m... m... mi... mil!!!

Desisti de comentar. Ou teria muito a dizer sobre a diferença entre compreender/aprender e treinar, ou descambava para pensamentos esquisitos que me estão a vir sem eu querer, sem eu buscar... palavras terríveis que me bateram na cabeça sem minha autorização... Pavlov... estímulo-resposta...reflexos condicionados... cãezinhos amestrados... Pobres crianças, vejam lá o que vão fazer delas com a fixação nos resultados, a exibir, de um exame (apenas um exame)!
Sim, esta ministra faz a minha mente descambar, desisto mesmo de comentar a Medida 12.

terça-feira, junho 27, 2006

Plano de Acção para a Matemática - II...

...Humilhação?

Medida 7 -
Lançamento de um Programa de Formação Contínua em Matemática para Professores de 2º Ciclo (...)
Medida 8 -
Apoio a Programas de Formação Contínua em Matemática para professores do 3º Ciclo e do Secundário.

Desconheço ainda sob que critérios vão se executadas estas medidas. Voluntariado? Dependendo dos cursos de formação inicial? Acções de actualização em matérias específicas, ou acções indiscriminadas/gerais, para todos?
Para o 2º Ciclo, serão entidades formadoras Escolas Superiores de Educação e Universidades. Não vou ao ponto de perguntar se professores dos Quadros de 2º Ciclo com cursos universitários, concretamente, licenciaturas em Matemática, (não, ainda não estão todos 'velhos', ainda há bastantes nesses quadros, longe da aposentação) vão ser chamados a "corrigir" a sua formação na ESE mais próxima, como também me abstenho de perguntar se professores formados em determinada ESE vão ser chamados à mesma que, segundo parece insinuar a Medida 7, lhes deu formação insuficiente.
Mas deixemos todos estes "pormenores".
Formação contínua é natural, desejada e desejável.
Recordo as frequentes acções promovidas pelos ministérios da educação no tempo em que o 2º Ciclo se chamava Ciclo Preparatório. Para a Matemática especificamente, tinham a designação de Encontros - Encontros de delegados da disciplina, que deles voltavam para as escolas com a missão de "passar" aos colegas o enriquecimento neles recebido, bem como a documentação. Esses encontros, em que não estavam em questão os conhecimentos científicos propriamente ditos, mas sim a didáctica específica e os métodos, eram frequentados com gosto até porque se trabalhava em grupos, discutia-se, trocavam-se experiências e novas ideias. E, nota importante, não eram notícia nos jornais.
Recordo também uma ampla acção, em 1974/75, para professores do Ensino Primário (assim designado na altura). Visava a Matemática, eu era nova, com estágio feito no ano lectivo anterior, talvez por causa dele me chamaram a participar como formadora, essa ainda juventude poderia ser constrangedora para as colegas 'formandas' (no grupo que me coube só havia elementos femininos), mas não foi, porque a convocatória (ou convite, não lembro se tinha carácter obrigatório) não transmitia a ideia de necessidade de colmatar falta de saber, nem que fosse por delicadeza e respeito pelas pessoas, tais insinuações não se faziam, as participantes vinham com entusiasmo e era natural para elas que a dinamizadora da acção fosse uma professora do Ciclo Preparatório pois era para ele que preparavam os seus alunos, a ideia veiculada (mesmo que houvesse e se previsse que haveria alguns participantes com insuficiências na formação para o ensino da Matemática no Primário) era a de uma ligação entre os dois ciclos, uma acção de formação que actualizasse os professores do 1º para o ensino dos alunos a caminho do 2º (Teria uns sete anos a reformulação do programa do Ciclo Preparatório sob a corrente da 'Matemática Moderna'). Em suma, eram acções de formação contínua naturais, desejadas e desejáveis, como já disse atrás. E, não me lembro de serem notícia nos jornais, não lembro, mas sei que não eram.
O que quero dizer com este 'vício' que aqui ganhei de escrever tanta linha, é simplesmente isto:
Maria de Lurdes Rodrigues não revela ter na sua personalidade, quer política, quer humana, umas "coisas" a que era costume chamar qualidades, com designações tais como 'tacto', 'bom senso', 'delicadeza', 'respeito pelas pessoas e pela sua sensibilidade'. A Ministra Maria de Lurdes Rodrigues apregoa, faz notícia, insinua por todo o lado que os professores de Matemática precisam de acções de formação, no que sub-repticiamente se veicula que os professores de Matemática não sabem suficiente matemática para a ensinar. É verdade que, para poderem ensinar bem, embora de forma adequada às idades, têm que saber bastante mais do que a que ensinam, mas a Ministra insinuou que os professores do 1º Ciclo ("os", que isso de distinguir "uns" e "outros" é coisa que só faz quando se vê apertada) não sabem nada que baste de Matemática, agora igualmente insinua sobre os do 2º Ciclo, e não fica por aí, os do 3º e Secundário também precisam de voltar à Universidade... ah, já me esquecia, pode não ser à Universidade, alguns, se calhar pensará a Ministra que saberão de menos para isso e irão ter acções nos Centros de Formação de Professores (só não percebi bem quais centros, não está especificado se são alguns daqueles em que se instalaram os tachinhos financiados pelo hoje tão "acreditado" FOCO.
_Isabel, lá te estás outra vez a estender! _ Queres dizer espalhar, pronto, pronto, então agora digo só o que afinal somente queria dizer, e até "grito", para os eventuais leitores não perderem tempo com essas linhas acima:
A Ministra Maria de Lurdes Rodrigues humilha os professores (e deu-lhe para privilegiar, na humilhação, os de Matemática).

segunda-feira, junho 26, 2006

Plano de Acção para a Matemática - I

Nota prévia:
Neste meu comentário (e na sua continuação noutro post), cingir-me-ei às medidas para o 2º Ciclo ou para escolas com 2º e 3º ciclos, e a serem implementadas desde o início do ano lectivo de 2006/2007.

Medida 1 -
Elaboração de Planos de escola de combate ao insucesso na Matemática
[Em síntese - Um conjunto de medidas que possibilitem, a médio e longo prazo (final do ciclo) melhorar os resultados dos alunos, partindo da análise dos resultados destes e de cada turma].
Nada poderia ter a objectar, obviamente, se, na restante redação desta medida, alguns "pormenores" prescritos me não parecessem perigar de conduzirem a uma grande diferença entre uma orientação de trabalho correcta e o desvio desse trabalho do essencial para o acessório de mais papelada a redigir, sob ordens exteriores, e a enviar (no que está implícita a ideia de controlar) a quem, provavelmente, nada sabe sobre causas de insucesso ou de desmotivação relativas à Matemática, sobre os diversos porquês de resultados em exames e sobre estratégias para minimizar tudo isso.
O que eu vejo de pernicioso e desviante do essencial não é, claro, a concepção de planos e de projectos, nem sequer uma necessária redacção que defina as suas linhas essenciais, mas sim o efeito perverso, que sobejamente tenho constatado, da feitura imposta do exterior de documentos com todos os rr e ss e, pior ainda, se para serem exibidos, ou submetidos à apreciação de quem não intervém na execução do que é planeado.
Precisamente para explicar esse efeito perverso é que escrevi um Preâmbulo em entrada que antecede a presente e no qual descrevi dois exemplos, seguidos de outro alusivo à diferença entre conceber (um plano) e burocratizar (um plano).
Em suma, a Ministra da Educação não se limita, como devia, a traçar uma orientação, que é correcta. Quer papeis para controlo, esses papeis cuja redacção acaba por passar a primeiro plano, e cuja imposição de fora parece advir da irrealista ideia de que o empenhamento e a superação de eventuais não empenhamentos dependem da escrita de um plano.
Outro "pormenor" acresce: o plano e seu cumprimento será supervisionado por um Supervisor do GAVE. Quem? Um competente professor de Matemática, experiente no respectivo nível de escolaridade?

Saltando a medida 2 (relativamente inócua),

Medida 3 - Desenvolvimento, no âmbito do Plano a apresentar ao ME, de projectos de trabalho conjunto entre os professores de Matemática e de Português.
Eu diria: finalmente!!! Mas... aquelas palavrinhas no meio - "no âmbito do Plano a apresentar ao ME" - levam-me a temer 'projectos' = 'projectos' + 'papelada bonitinha acessória', ou seja, a considerar também um pouco o que já disse a propósito da Medida 1.
(Sem que este reparo invalide não só a importância de não ser esquecida pelos professores de Matemática e de Português a interacção entre o desenvolvimento do pensamento lógico-matemático e o do uso compreensivo e preciso da línguagem, mas também a pertinência, direi mesmo necessidade urgente de, ao menos em conselhos de turma, os referidos professores sairem dos seus compartimentos - e também os outros, que não estão dispensados de concorrererm para o desenvolvimento, nos alunos, de competências quer no domínio do português, quer no âmbito de algumas competências que certas pessoas parecem entender como específicas da Matemática, mas que não são de facto desenvolvíveis só nesta.)
Quanto a estas, paro por hoje os meus comentários.
Paro, porque eu nem tenho nada contra supervisores numa perspectiva de avaliação - formativa -, muito menos tenho contra a formação contínua ser proporcionada, foi sempre uma reivindicação dos professores, mas esta ministra tem o jeito de tornar o que seria natural e desejado em algo que eu já tinha na cabeça como título de outro post - Humilhação?
Adianto apenas que uma coisa é formação contínua, outra é pôr em causa a formação académica de que partiu a preparação do professor (sem, no entanto, note-se, pôr em causa nenhuma instituição formadora), e anda a parecer-me que a Ministra tem um especial jeitinho para dar a ideia de que os professores de Matemática não sabem Matemática (ao que não vão escapar os do 3º Ciclo e do Secundário, tal como os muitos que leccionam essa disciplina no 2º Ciclo com uma licenciatura universitária específica ou afim. (Alguns colegas, formados para o ensino do 2º Ciclo posteriormente à década de 80, se acaso carecem de formação científica, foi porque os formadores de ESEs e Institutos congéneres não a tinham, ou, aos que a tinham, foram dadas umas escassas horas para a ministrar, que as outras todas eram precisas para as Ciências da Educação!).
Mas, como disse, não tencionava comentar hoje aquelas medidas, já escrevi, portanto, umas linhas a mais, um comentário com alguma maior ponderação fica para outro dia em que, para tal, tenha disposição e... calma.

P.S
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Bem, esfreguei os olhos, voltei a lê-la, era mesmo o que tinha lido à primeira vez. Embora não faça parte das que serão implementadas no início do próximo ano lectivo, já não ficarei apenas por mais uma entrada a concluir a presente, vai mesmo sair-me outra só dedicadinha à Medida 12.
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ADENDA
O comentário do Miguel Pinto a esta entrada fez-me tomar consciência de que, neste meu modo de escrever depressa, "ao correr da pena", quando escrevo na blogosfera, deixo pensamentos pouco claros para quem lê. Assim, esclareço que, ao ter feito referência à formação ministrada por "ESEs e Institutos congéneres" e às horas destinadas às Ciências da Educação (conjuntamente com as destinadas às disciplinas específicas, no caso, Matemática e Ciências da Natureza), de modo nenhum considero que, mesmo face à escassez de tempo para tantas disciplinas, as chamadas disciplinas das Ciências da Educação possam ser prescindíveis. Tratando-se de licenciaturas para o ensino com profissionalização integrada, não seria pensável que abrangessem apenas disciplinas de Matemática e Ciências. A questão está, a meu ver, é no 'início de tudo isto', início subsequente à Lei de Bases do Sistema Educativo, com a institucionalização de um novo modelo de formação específico para a leccionação do 2º Ciclo e com a estruturação e ministração dos respectivos cursos pelas ESEs e outros Institutos, sendo do conhecimento geral que a própria qualidade varia e é criticável em bastantes casos, ressalvando-se que nem é justo 'meter no mesmo saco' todas as ESEs quando se referem deficiências, nem esquecer que, paralelamente às ESEs, proliferaram Institutos, sendo também do conhecimento geral que alguns deles têm prestado um mau serviço. Mas, esta questão ultrapassa o assunto da presente entrada, pelo que apenas saliento o esclarecimento acima.

Papelada (Um preâmbulo)

Preâmbulo, porque, antes de uma das reservas que porei a duas das medidas do Plano de Acção para a Matemática, quero tornar compreensível, a quem eventualmente leia os comentários que farei a esse plano em entrada seguinte à presente, o que tenho contra a imposição de certas redacções, ou seja, explico a quê chamo papelada. Não me refiro, claro, a redacções, mesmo morosas, de projectos que não são impostos, decorrendo da iniciativa de professores ou da escola.

Começo por recordar dois exemplos do que fui observando e me fez, bastante indisciplinada, alinhar o menos possível no que acabava por me levar a chamar papelada.

1º exemplo (começo por este, actual e de efeitos perversos, devido à designação "planos" também usada na Medida 1 do Plano de Acção para a Matemática, pretendendo-se, em ambos os casos, melhorar os resultados dos alunos): Os planos de recuperação.
Nenhum professor negará a pertinência de os conselhos de turma se debruçarem sobre medidas e estratégias de recuperação dos alunos com resultados insatisfatórios. E, apesar da tendência para o fechamento de cada disciplina em si própria, não deixavam os conselhos de turma de definir algumas medidas e até de aprovar determinadas iniciativas extracurriculares, após análise conjunta das respectivas situações. Com os malfadados papeis, impostos do exterior para controlo e pressão, bem como para ser dito por escrito o que devia ser assumido por todos - professores, alunos e encarregados de educação -, nos conselhos de turma de final de 1º e de 2º Período deixou de ser discutido conjuntamente fosse o que fosse, na quase inevitável necessidade de cada um preencher os seus espaços na papelada, de preferência em silêncio sobre o que ia escrevendo para não perturbar as escritas dos outros. Enfim, planos de recuperação sempre fiz constantemente no meu próprio trabalho individual, não me lembro de ter redigido algum, tinha era que pensar, preparar as aulas com os respectivos materiais e investir dentro delas - ou deveria andar com algum papel na mão (?) a dizer-me: Não te esqueças de trabalhar para o sucesso, controla-te!.
(Não tenho emenda, foge-me sempre alguma piadinha à inefável milu...)



2º exemplo (lembro este porque, embora pequeno face a muito mais papeis que foram posteriormente impostos, a designação "projectos" também usada na Medida 3 do Plano de Acção para a Matemática - embora, obviamente, eu nada tenha contra a ideia em si, pelo contrário - mo fez recordar dado que, a meu ver, não deixou de ter alguns efeitos perversos): Os projectos curriculares de turma.
Também nenhum professor negará a pertinência de um conselho de turma, a partir das características da mesma e dos seus diferentes alunos quanto a atitudes, desempenho escolar e outras, definir objectivos prioritários e estratégias de actuação comum ou convergente, adequadas/adaptadas àquela. Igualmente me parece inquestionável a necessidade de contrariar tendências das disciplinas se fecharem em compartimentos, criando-se (ou melhorando) perspectivas de inter e trans disciplinaridade a concretizar na prática.
Não era necessária, em tempos quiçá já passados, a imposição da redacção de um documento intitulado Projecto Curricular de Turma, extra ao que se registava em acta no âmbito de objectivos e estratégias ajustados à respectiva turma, para que, no geral dos conselhos de turma, se definissem prioridades de acção e se identificassem os contributos de várias disciplinas para concretização de projectos da ou com a turma. Será verdade que se ficava aquém do desejável, quer reduzindo-se a ideia de interdisciplinaridade para apenas multidisciplinaridade, quer ficando-se, no âmbito de prioridades, por discussão de pouco mais do que estratégias para criação de ambiente de aula indispensável à aprendizagem face a problemas de comportamento/disciplina, permanecendo a confinação de cada disciplina a si própria no desenvolvimento de competências nos alunos, apesar de estas não passarem apenas pelas competências muito específicas de cada disciplina. Mas, também é verdade que, sendo os conselhos de turma de final de período demasiado preenchidos pelo que é prioritário fazer neles, os conselhos intercalares, que seriam oportunidades privilegiadas para cumprirem melhor as finalidades desejáveis, dispõem de insuficiente tempo, nesse seu encaixe, ao longo de duas, três ou mais semanas, nas horas de que as escolas podem dispor para reuniões, já bastante ocupadas pelas do CP, dos DCs, do CDT, etc.
Neste quadro, a imposição de um projecto curricular de turma formalmente redigido só veio, até pelo remar contra o tempo, provocar recurso a modelos previamente feitos e usados em todos os conselhos, em boa parte preenchidos antecipadamente pelo director de turma, e completados nos conselhos mediante a passagem a primeiro plano de redacções que era necessário caberem no tempo já escasso, para ficarem como papelada que ninguém volta a ler porque, ou bem que o seu conteúdo já estava na cabeça dos professores antes da redacção e nem a posterior leitura nem a própria redaccão extensa lhes são necessárias, ou bem que (ou mal) não se estabeleceram em cabeças, com o contributo de todos, e essas menos ainda se lembrarão de ir ler. Papelada que, em suma, pelo efeito que têm documentos obrigatórios e com prazo nem sempre adequado, acaba por pouco contribuir ou acrescentar, antes desvia de (ou deixa ainda menos tempo para) intervenções no sentido da desejável maior sensibilização para as perspectivas inter e trans disciplinares que referi.


Já me alonguei demasiado e vou alongar-me ainda mais, mas este meu cantinho é de memórias, são muitas vezes elas que intervêm na minha escrita, além de que escrevo para exprimir e guardar aqui o meu pensamento independentemente de alguém ter paciência para ler.

Compare, cada um que me leia, o que significa um departamento de disciplina, empenhadamente, analisar, discutir/reflectir conjuntamente e decidir quais as estratégias e medidas a adoptar, bem como os meios necessários, compare, dizia, com o seu próprio planeamento de aulas, individual ou em trabalho colaborativo, quando empenhado. Pense como planeia as suas aulas, tantas vezes continuando em momentos ou lugares insólitos tais como já estar na cama para dormir e, na mente, ter aquela turma difícil, ou aqueles desastrosos resultados em testes que acabou de corrigir, ou aqueles alunos que já pensava "agarrados" no caminho da autoconfiança e da motivação e que lhe estão a "fugir" outra vez. E, lembre-se agora dos planos que, no estágio, não ficavam só na cabeça e nuns tópicos no papel, mas eram morosamente redigidos para o orientador analisar e poder formar - nessa altura, sim, redacção morosa mas útil porque se tratava ainda da aprendizagem do que significa planear uma aula organizada, consciencializar objectivos, perceber didácticas adequadas às idades e fazer um percurso de autonomização na concepção das diversas estratégias possíveis face a turmas e alunos diferentes; pense, então, no que seriam, depois, os seus anos de trabalho profissional se os seus planos, ao preparar as aulas ou, por exemplo na situação que referi de até já estar na cama ainda com os alunos na cabeça, requeressem redacção, e acrescento dela saltando da cama, em "formato" com todos os rr e ss de um documento formal. Seriam anos infelizes e desmotivadores devido à papelada, certo?

(Em Setembro último, como coordenadora de Matemática do 3º Ciclo, até levei redigidas, para o Grupo, "Prioridades para o Ano Lectivo de 2005/2006", incluindo a sua justificação decorrente da nossa análise da situação, as quais foram discutidas, apoiadas e cumpridas, mas as duas páginas e meia, corridas (e que não devem as minhas colegas ter precisado de andar a reler, pois o conteúdo era nas nossas cabeças que estava), teriam que ser "formatadas à maneira" se se destinasem a enviar e submeter ao ME, em muitas mais horas do que as do serão em que as escrevi).

sábado, junho 24, 2006

Para recordação de uma tarde com a Arte

Hoje fui à exposição temporária que está no Museu das Janelas Verdes (não se chama assim, mas é assim que aqui todos lhe chamamos) Se a Teresa Lopes não tivesse alertado, eu, distraída, era capaz de me não dar conta deste acontecimento aqui mesmo perto de mim.

Tive muito poucas oportunidades de ver originais dos Génios, ou dos Grandes, mas foram suficientes para não esquecer a emoção que então sentira ao estar diante de alguns. Não há comparação entre ver reproduções em livros sobre arte ou navegar por galerias da Net e estar diante de alguns originais.
Digo alguns, mesmo entre os que já vi, porque, embora saiba reconhecer a arte contida em tantas obras guardadas como património de vários séculos, uma coisa é reconhecer essa arte, outra é ela emocionar-me - as minhas atracções são subjectivas e, nem sequer sendo 'entendida', não tenho qualquer pretensão de as saber justificar.

Assim, por vezes percorro exposições sem me deter em todos os quadros expostos, e, no caso desta, como já sabia qual o conteúdo, depois de procurar El Greco na primeira sala, percorri as imediatas um tanto rapidamente, excepções feitas a alguns quadros, porque onde queria chegar depressa era à dos impressionistas (são gostos, atracções...).

Como recordação, coloco aqui três imagens. São só uma amostra daquelas pelas quais, no final, voltei atrás para, revendo-as, as manter nos olhos após sair.


Dois Monet, porque já tenho trazido Claude Monet para este cantinho, ao procurar algo que o meu estado de espírito, no momento, precisa, seja para se exprimir, seja para se libertar.




















Paul Signac, porque o seu "neo" estilo não estava nas minhas atracções especiais, pelo que foi uma surpresa ter ficado tanto tempo presa a este quadro (é a tal grande diferença entre o original perto dos olhos e o que aqui se vê)



E Pierre Bonnard, como bom finalizar da amostra porque gosto muito de janelas abertas.



sexta-feira, junho 23, 2006

Adenda


Eu sei que ainda estou impulsiva, que ainda estou zangada. Mas, afinal, eu também sei como cada 'hoje' em que nos centramos, que empolamos, em que nos zangamos, ou, mesmo, outros 'hoje' em que sofremos, 'amanhã' serão passado e parecerão, afinal, insignificantes.
Como, amanhã, parecerá insignificante uma ministra em que hoje nos centramos empolando consequências da sua breve passagem.
(Vê se recomeças a aplicar as tuas filosofias, Isabel!)

De súbito... entendi!!!

Nada esperava eu, quando me despedi até ao fim de semana para me dedicar ao prazer de ler, que, de repente, algo no livro que até já quase tinha terminado há umas semanas (O Século Chinês, que abaixo referi) me viesse à memória e provocasse uma associação, como um 'flash', tornando-me claro que a actuação da Ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues não poderia, não poderia mesmo, deixar de decorrer numa atitude prepotente, pouco democrática, digamos que ditatorial. (Agora confirmada - Anexo*)

Abro um parêntesis, antes de continuar e para que ninguém me interprete erradamente, a fim de salientar, com todos os sublinhados que sejam necessários, que a minha associação a partir daquele livro não tem implícita qualquer mínima comparação com o regime de ditadura na China, com o desenvolvimento desta em esquecimento dos milhões de chineses em pobreza extrema e à custa da submissão de mais outros milhões de trabalhadores ao trabalho pago com salários com que só conseguem sobreviver em condições impensáveis para os ocidentais, ou com quaisquer outros atentados aos direitos humanos que se verifiquem nesse país. A minha associação partiu apenas de um "pormenor" - partiu somente de um dos argumentos que os detentores do poder na China (até há pouco fechada enquanto decorriam períodos e massacres de que as nações com regimes democráticos se iam apercebendo ou tinham conhecimento, horrorizadas), agora expõem no exterior, na procura de justificar a sua recusa de abdicação de um regime ditatorial (aliás, já sem grande necessidade nesse exterior de memória curta quando lhe convém).

Numa coisa tem "razão" o governo chinês: as regras da democracia seriam um empate, um impedimento à conseguida ascenção rapisíssima às primeiras filas do domínio tecnológico (e científico), as regras da democracia provocam inevitável demora no alcance de objectivos nem por todos perfilhados, mais demora ainda (ou mesmo impedimento) no recurso a métodos eficazes na prossecução desses objectivos quando tais métodos não são susceptíveis de obter um consenso, mínimo sequer, indispensável a alguma estabilidade interna. E, passo por cima do que tem de falaciosa tal "razão", ou dos perigos de, a médio prazo, essa "razão" culminar em consequências desastrosas para os próprios e para um país e seu povo, após, no imediato, ter mostrado "espectaculares" resultados.

É estúpido que fosse preciso este exemplo, despropositado e injusto pelo exagero, para a minha mente finalmente entender a impossibilidade de Maria de Lurdes Rodrigues ter uma atitude não prepotente ao aceitar determinadamente a incumbência de dar um considerável contributo para o problema nacional que é o défice ou o estado da economia portuguesa, num dos sectores do funcionalismo público - o sector docente. Sim, não seria possível esse contributo no curto espaço de um mandato e, para mais, com urgência de ser completado com algum tempo de antecedência da seguinte campanha eleitoral, tendo ele a oposição dos visados, seja pelos seus interesses/direitos profissionais, seja pela identificação da hipocrisia dos argumentos "a bem" da educação/ensino das crianças e jovens, não seria possível, dizia, a não ser pela eliminação dos obstáculos decorrentes dessa oposição. Ou seja, a não ser pelo pisar de direitos adquiridos, pela destruição do Estatuto da Carreira Docente democraticamente conquistado e imposição de outro estatuto "conveniente" e quase logo anunciado como só susceptível de negociação "nalguns aspectos" ("como o tempo e o modo de aplicação de algumas medidas"*), portanto, pelo passar por cima de leis conquistadas e estabelecidas no quadro e na sequência da Constituição da República, incluída a legislação que estabelece e regulamenta a Negociação Colectiva, pelo passar por cima, em suma, de preceitos de um Estado de Direito e, até, pelo despudor de dispensar a aprovação do novo decreto ao antecipá-lo mediante normas*, já em Despacho**assinado, para preparação do próximo ano lectivo sem que estejam sequer aprovadas.
Não, não era possível a Maria de Lurdes Rodrigues cumprir zelosa e atempadamente o papel para que foi escolhida se se submetesse aos "empates" de alguns preceitos democráticos.

(Perdoe-se-me que este escrito tenha decorrido da ideia de empates causados pelos direitos democráticos, implícita num dos argumentos dos dirigentes chineses em defesa do seu regime, pois as minhas denúncias de atropelos de normas democráticas por parte da actual Ministra da Educação, por mais duras que ainda venham a ser, obviamente que não me levam a compará-los com as práticas dessa ditadura)

Adenda:
Lamento não me recordar de qual a escola (provavelmente não única, mas foi aquela de que se ouviu falar aqui pelas bandas de Lisboa) cujo presidente do c.e. fez aquilo a que de facto era obrigado, logo no início do ainda corrente ano lectivo: conhecer e cumprir a legislação em vigor, no que se inclui devolver ou ignorar ordens contidas em despachos que contrariem normativos legais com força superior. Com tão escassas recusas de atropelos de leis ou decretos-lei, Maria de Lurdes Rodrigues poude verificar que os primeiros passinhos nesses atropelos lhe permitiam avançar para outros maiores, já que partidos, incluindo o seu, chamado Partido Socialista, silenciam um pedacinho de ditadura (espero e até acredito temporária e circunstancial) em nome de "prioridades" para a saída do país de um buraco, e não se sabendo se o Presidente da República que temos actualmente está voltado para ser o garante da democracia, sempre, sem permitir precedentes, perigosos sobretudo num mundo "global" a que não escapamos e no qual o desenfreado neo-liberalismo ou "vírus liberal" (como designa, em alerta, Samir Amin), tornou a democracia apenas "um luxo dos ricos" (expressão também sua).
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*Anexo:

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quarta-feira, junho 21, 2006

Adenda

A propósito de livros, transcrevo o comentário de Fátima Bica na minha entrada anterior, e a minha resposta. (A nota de rodapé é acrescentada por mim)
«Espero que se tenha divertido tanto a ler a Stôra Lili* como eu a escrevê-la.Um abraço
fatimabica»
«Diverti-me imenso, sim, li-o no verão passado e creio que o referi, nessa altura, aqui no meu cantinho. Andamos a precisar muito de humor, mas crítico, e sem proteger a escola também do sentido crítico, sendo mais agradável fazê-lo com bom humor no âmbito de: "Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com pessoas, nomes, factos, ou acontecimentos da vida real terá sido coincidência". ;) Um abraço.»
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* Fátima Bica (2005). O Diário da Stôra Lili. Edições Colibri.

E porque hoje é um dia qualquer...

Não me apetece escrever, vou para a cama ler. Tenho um livro para acabar, pois meti pelo meio um poema em prosa (estava a precisar), mas vou acabá-lo hoje - O Século Chinês*. Ainda não tinha lido um ponto da situação tão completo e, se já andava com dificuldade em imaginar este século com os vertiginosos "progressos" da China (que me sejam desculpadas as aspas, mas o conceito de progresso cá para mim anda desvirtuado pelo planeta inteiro), agora, com este relato, se tento conceber previsões, quem fica doida sou eu.
(Eu sempre achei que o universo não é doido, portanto o nosso planeta também não, mas o nosso planeta é habitado, os seres que nele habitam perderam os sonhos, uns porque se embriagam em banhos de notas, outros porque não têm nem uns trocos para sobreviver, e os primeiros são loucos e põem os segundos loucos. Mas ainda há uns terceiros que têm a sorte de não ter nenhum monte ou montinho de notas, mas ficam-lhes umas moeditas até para ir comprando livros, acho que ainda são os que conseguem ir arranjando protecções para não virarem doidos)

Afinal, escrevi umas palavritas, mas é mesmo verdade que não me apetece escrever até ao fim de semana.
Bom trabalho para todos!
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*Federico Rampini (2006). O Século Chinês. Editorial Presença. (Original publicado em 2005)

segunda-feira, junho 19, 2006

Porque ontem foi domingo - II

(Domingo com uma neta)

Criamos as nossas crianças, desde pequeninas a desejar saber ajudá-las a, um dia, ganharem asas para voarem. A uma dada altura, olhamos para elas, reparamos que estão a crescer tão depressa, que estão quase a deixar de ser pequeninas, e ficamos assim a olhá-las como que a querer deter o tempo, a querer senti-lo a 'andar' mais devagarinho durante mais um bocadinho de tempo. Sabemos que o que mais desejamos é que ganhem asas (e fortes), sabemos que a nossa felicidade depende de um dia as vermos voar com asas sólidas, livres, autónomas, mas... não tinha mal demorar-se o tempo, antes disso, distraído de si, detido também a contemplá-las.
Mas, a canção das mães (e pais, e avós também) tem que ser, só pode ser, uma como esta que deixo (hoje este cantinho só tem canções de Toquinho, não as procurei, vieram por acaso ter comigo - acaso, ou, em geral, não reparamos em "acasos"?)

Canção O Caderno, de Toquinho, com ilustrações de Jaime Barbosa em P.P.




Porque ontem foi domingo - I

(Domingo com a minha companheirinha de oito anos, mas ainda com a marca de uma memória recente)

[Memória de três mais crescidas que, para certas pessoas, têm nome sem sobrenome, como apenas seres iguais a muitos outros a quem vêem sem olhar, como já levemente aludi há dias - e, para tais casos, não tenho qualquer complacência, não silencio, ao aperceber-me deles ou deles ter conhecimento, que também temos dessas pessoas, para possível azar no futuro de determinadas crianças se um acaso faz alguma de tais pessoas ter grande peso no trabalho e actuação com a respectiva turma (repetindo que acredito que, mais em minoria do que maus profissionais, raros mesmo, serão os que escolhem a profissão de professor, competentes ou menos competentes como ministradores de instrução, mas com reduzida sensibilidade e envolvimento humanos). Embora só revele personalizadamente o que penso aos próprios, sem que, obviamente, abrisse a boca em público se fossem susceptíveis de ser identificados por mais alguém a não ser eles mesmos, caso fossem capazes de se ver num espelho - perdoe-se-me ainda não ter ultrapassado esta memória, ao fim de 10 dias, e de uma semana depois de já a ter deixado transparecer neste cantinho.]


Canção de todas as crianças - Gente sem sobrenome



Todas as coisas têm nome,
Casa, janela e jardim.
Coisas não têm sobrenome,
Mas a gente sim.
Todas as flores têm nome:
Rosa, camélia e jasmim.
Flores não têm sobrenome,
Mas a gente sim.

(...)

Todo brinquedo tem nome:
Bola, boneca e patins.
Brinquedos não têm sobrenome,
Mas a gente sim.
Coisas gostosas têm nome:
Bolo, mingau e pudim.
Doces não têm sobrenome,
Mas a gente sim.

(...)

(Da letra da canção de Toquinho,
Canção de todas as crianças. Gente tem sobrenome.)

domingo, junho 18, 2006

Obrigada...

... a todos os que me escreveram no meu post anterior.

Não mudei o título, como sugeriu o Miguel Pinto, mas digo agora:

Até já! ;)

As pétalas, deixo-as eu; mas as flores (para quase todos - outros, como a Amélia, já receberam) são das crianças que, ainda tantas, ao crescerem um pouco mais, vos passarão pelas mãos (mesmo que, então, lhes não ocorra o gesto, mesmo que então ainda não tenham consciência de que as colheram e guardaram para vós).













(gettyimages)

sexta-feira, junho 16, 2006

...

René Magritte (1967). La page blanche.
(Silence... please!)

End

Pelo andar da caravana, é pouco provável que a manifestação do dia 14 tenha sido a última em que participe. Mas a greve, essa sim, foi a última, pois ninguém pode fazer greve quando deixa de ter patrão ou serviço a que faltar. Nem por solidariedade, nem por luta pelas crianças, pelo seu futuro e futuro do país em que vão crescer e viver, mesmo que entre elas estejam os próprios netos.
Hoje foi o meu último dia de escola - por um acaso, até sem ter que assinar livro de ponto, dado ser o meu dia livre. Terminei o que determinara cumprir, o que me levara a não pedir a aposentação (a que tenho direito desde meados do ano lectivo anterior) logo depois daquelas reuniões de avaliação do 1º Período em que, em vez de se falar de alunos e estratégias convergentes, se preencheu papelada, cada um os seus compartimentos em papeis a rodarem.
Hoje dei a segunda das duas aulas suplementares, já não oficiais, que combinara com os meus nonos anos. O meu oitavo também tem o programa praticamente completado e a avaliação feita (e sem pressas
).

Agora, antes de mais, vou cuidar de mim, já que algumas gotas de água me fizeram transbordar no ponto a que, chame-se-lhe o meu "calcanhar de Aquiles", sou mesmo sensível - as crianças ou adolescentes que não deixam de ser também ainda crianças - pelo que o meu estado durante os últimos oito dias justifica (e, ao olhar mais lúcido do meu médico, impõe) que coisas já não importantes me não atrapalhem o regresso a bom estado.

domingo, junho 11, 2006

E hoje, que é domingo...

... quero estar tranquila, passear com a Inês e depois jantar com ela e com o Nuno.

Mas também quero para eles um país em que mediocridades saiam do caminho para não o impedirem de ser um país não medíocre! E, para isso, também é necessária intranquilidade... e seria bom que ela começasse a despertar nalgumas consciências - umas que tão tranquilamente se querem apresentar diante das câmaras que lhes tiram o retrato para ser exibido ao povo português, também outras que tão tranquilamente estão ao lado de certas crianças sem as olhar. (Para algumas destas crianças reservo memórias muito recentes que não deixarei de escrever um dia)

Tishman, Walking to Tomorrow

sábado, junho 10, 2006

Hoje...


... estou nitidamente FARTA!



De muitas coisas "escolares"
(de algumas delas não falo em público),
na 6ª feira enchi e transbordei
(nada a ver com greves ou ECDs),
quero paz de espírito!




Larry Brown, Peace of Mind

Greve do dia 14

Decidir fazer ou não fazer greve é direito de qualquer professor. Ninguém, (pelo menos nenhum professor democrata) deixará de respeitar as decisões individuais, por isso, quem não a quer fazer poupe os outros a justificações/argumentos que ninguém lhes pede e que, esses sim, lhes ficam mal.
"O dia é oportunista... entre dois feriados" (aliás um, só em Lisboa).
'São necessários 10 dias úteis para meter o Pré-aviso de greve. Depois das ofensas da Srª Ministra e de receber a proposta do ME, o Secretariado Nacional da FENPROF reuniu, de emergência, a convocação da greve só poderia ser feita para os dias: 13, 14 e 16 ou, na semana seguinte, de 19 a 23.' (in site da FENPROF - outros sindicatos aderiram à greve). 13 é feriado em Lisboa e 16 dá ponte para todo o país. Mas se fosse entre 19 e 23, o argumento seria o prejuízo dos alunos com exames adiados (adiamento que também é uma chatice para professores com serviço de exames...)
Etc. (argumentos variam). Mas deixemos isso, argumentar ou justificar não é proibido, só já é esquisito quando com eles se faz campanha para também demover outros)

O que eu quero deixar aqui dito é que agradeço a quem, no seu pleno direito, não faça a greve, que não me encha mais os ouvidos (ou os de outros que lutam) com indignações porque a Ministra insultou, porque foi conivente, pelo silêncio, com todos os insultos na praça pública aos professores (não a alguns, "aos"), para já nem falar de indignações com o seu projecto de ECD.
O dia 14 é o momento de manifestar a indignação, de exigir respeito, de requerer diálogo de boa-fé e de lembrar que nada melhorará o sistema de ensino sem os professores ou contra eles.
Por isso, por favor, quem não quiser manifestar isso nesse dia de oportunidade para o afirmar publicamente, deixe de se queixar e indignar só na intimidade das salas de professores! A Escola não precisa de queixumes, mas de acção. E, se os queixumes são sintoma de desmoralização e de desmotivação, então precisam de luta contra o que causa isso, que a obrigação do professsor é motivar-se para trabalhar empenhadamente no ensino (de preferência sem ser preciso que sejam só os "outros" a lutar).

P.S. E se eu argumentasse que já não apanho com o Estatuto em cima e que não vou mais aturar as injúrias da srª ministra??? Ora poupem-me a argumentos, poupem-me sobretudo a queixas que ouço e que também "ouço" lendo (basta ter ido de vez em quando ao Educare ao longo deste ano lectivo para ouvir, ouvir, ouvir).... sejam Livres, mas passem a poupar-me(nos) os ouvidos!

sexta-feira, junho 09, 2006

Adenda: colaboração e "colaboração"

Cooperação (autor desconhecido)

Acólitos (autor desconhecido)
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"Raramente os acólitos aparecem no seu estado puro. São híbridos e multifacetados. São pessoas. E como todas as pessoas procuram a sua transcendência. O problema é que o sentido que quiseram dar à vida perdeu-se no sentido que deram às coisas. "
(Miguel Pinto, 15 de Janeiro de 2004)


Achega para resposta a uma pergunta

Pergunta o Miguel Pinto, em entrada intitulada "Colaboração por decreto...": "Afinal, quem é que guia e controla o significado da colaboração?".

Creio que não há grande distinção entre o significado de colaboração (co-laboração) e o de cooperação (co-operação), pelo que lembro a clássica definição de cooperação de M. Deutsch (1973) referente a situações ou estruturas de trabalho: Uma situação é cooperativa quando se verifica uma interdependência estimulante ("promotive interdependence") de tal modo que os objectivos dos participantes estão tão ligados que cada um pode atingir o objectivo próprio se - e só se - os outros também puderem chegar aos seus. Enquanto uma estrutura de competição já implica que os objectivos de um (ou uns) só possam ser atingidos se os dos outros não o forem, distinguindo ainda o mesmo autor o contexto ou situação de individualização, em que a actividade se processa em mera independência de objectivos. E, se não nos cingirmos a uma estrutura de trabalho e passarmos para o domínio mais geral dos comportamentos ou dos traços de personalidade, teremos a definição de individualismo como não mais do que o maximizar de resultados pessoais 'com indiferença pelos dos outros' (Liebrand e McClintock), diferente de 'contra os outros', pelo que o que oponho a cooperação é mesmo competição.
Resta é discernir quando os objectivos de um grupo colaborativo são os de competição com os restantes elementos de uma estrutura de trabalho.

Assim, a resposta à pergunta do Miguel parece-me ser: Quem controla o significado de colaboração são, em princípio, os que colaboram entre si, e, se a colaboração é promovida do exterior ao grupo, colaboram os participantes e o promotor ou, dito de outra forma, colaboram os participantes entre si e com o promotor - de qualquer modo, os objectivos de cada um são atingidos se "e só se" o forem os de todos os participantes nessa colaboração.

E o meu raciocínio chega, então, à convicção que a questão está nos objectivos, pelo que o controlo do significado de colaboração decorre deles e... aqui é que pode estar a "ratoeira". Ou não? - estou a divagar? Se calhar estou, nunca me tinha lembrado de associar cooperação à possibilidade de ratoeiras. À ideia de cooperação está associado correntemente um valor, pelo que, afinal, talvez seja preferível distingui-la de colaboração, alargando esta aos funcionamentos colaborativos visando quaisquer fins, sinceros ou hipócritas, e mantendo a primeira com o seu valor implícito habitual. Valor, mas também conceito que levava Piaget (1932) a dizer (ingenuamente??) "quer a cooperação seja um produto ou uma causa da razão, ou ambos ao mesmo tempo, a razão tem necessidade de cooperação na medida em que ser racional consiste em se situar para submeter o individual ao universal". (Jean Piaget, ingénuo??!! Hum... não será antes a racionalidade que anda em muito lado em baixo, por vezes a bater no fundo?)

[Divagações minhas... a milu, pelos vistos, já me põe a divagar, provocando-me pensamentos que aqui ficam... sei que pouco explicitados, mas julgo que legíveis em entrelinhas].

terça-feira, junho 06, 2006

...

Faltava a adenda...


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Rose against a Cloudy Sky

Martin Johnson Heade (1876)

O que aguardo agora?

Saltitei por alguns posts meus antigos. Não me detive nos (muitos) em que denunciei políticas educativas ou males do sistema, mas, sim, num ou noutro em que revelava necessidade de pausa para reflectir, para, talvez, dar a esta ministra o benefício da dúvida.
Assim, dizia em 20 de Setembro passado: "Agora, opto por parar e esperar. Porque o tempo está nublado, não há visibilidade para vislumbrar o evoluir deste momento. Resta, portanto, aguardar. (E desejar que o que for trigo cresça e o que for joio vá para a lixeira)".
Também dizia em 31 de Janeiro : "Preciso de reflectir antes de voltar a escrever (opinar) sobre o estado do sistema educativo.(...) Sobre a próxima revisão do nosso ECD, as minhas apreensões começam nas motivações da Srª Ministra para a fazer, mas como se deve dar o benefício da dúvida mesmo quando o que parece... até parece mesmo, estou a conter os meus dedos nas teclas...".
Mas... voltando atrás, em 27 de Setembro intitulava uma entrada:
"Ao menos nisto, passividade... Não!"

Hoje, estranhamente, sinto-me de novo a aguardar, mas não pelas mais que previsíveis actuações da srª ministra. A aguardar com uma sensação, não sei se de cansaço (o calor põe-me de rastos), se de tristeza realista (a ausência de ingenuidade lança-me em guerra comigo porque eu não quero desistir de... talvez utopias), se de uma alergia, um Estar Farta.
A aguardar pelo comportamento da classe profissional a que pertenço. Não pelo daqueles, ainda bastantes, que conheço e sei que lutam sempre, mas pelo da maioria. E volto a dizer-me: "não há visibilidade para vislumbrar o evoluir deste momento". Detesto o que me é nebuloso, em geral saio fora, mas, às vezes, não quero distanciar-me e os ambientes invadem-me. E, apesar de já o ter dito há quase um ano, ainda volto a dizer também, agora: ao menos nisto, passividade... Não!

segunda-feira, junho 05, 2006

A táctica da omissão

Em cima do "Diga lá Excelência", na TV2, hoje com a Ministra da Educação, duas notas, de algum modo ainda à margem do conteúdo da entrevista e das palavras de Maria de Lurdes Rodrigues.

Nota 1
Durante um ano inteiro, jornalistas e outros comentadores foram incansáveis na descredibilização dos professores perante a opinião pública, em afirmações de culpabilização, em acusações de falta de trabalho, de incompetência - usando-se a expressão "os professores", não, sequer, alguns professores. Não se pretendendo intervenção do ME contra a liberdade de imprensa ou de opinião, não deixa o silêncio de ser uma conivência, não deixa de ser verdade que em nenhuma intervenção pública ou entrevista por parte da Ministra ou de seus secretários foi emitida alguma opinião (já que se trata de liberdade de opinião) contrária a essas "opiniões" que encheram a cabeça dos portugueses leigos nas questões da educação.

Nota 2
Do recente discurso da Ministra na sessão de abertura do Debate Nacional sobre Educação, na Maia, conhecem-se afirmações expressas em frases que, mesmo isoladas do restante discurso, dizem exactamente o que dizem. Frases como 'um trabalho - quer das escolas, quer dos professores - "que não se encontra ao serviço dos resultados e das aprendizagens".'; 'ela (a cultura profissional dos professores) é marcada pela actualização dos conhecimentos científicos, mas "não é uma cultura em que os principais desafios sejam os resultados".' 'A cultura profissional dos professores não os orienta para os casos mais difíceis (...)'.
Diz agora a srª Ministra que não disse o que disse, que não falou contra os professores, ou que foi mal interpretada, mas, na verdade, além de esses aspectos que referi na nota 1 e das palavras que efectivamente pronunciou, que têm sido recebidos por tantos e tantos professores como insultos, faltas de respeito e elementos desmoralizadores/desmotivadores, mal terem sido aflorados hoje e logo passados "adiante", o dito discurso não foi publicado - pelo menos não o encontro em lado nenhum e ainda nenhum professor me disse que o encontrou. Porquê?
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Adenda
A seguir a estas notas, passei no blogue do Miguel Pinto, em que, a dada altura da sua entrada, ele pergunta: "Teremos razões para acreditar na boa-fé negocial?"
Consideremos dois exemplos:
a) Com a medida das chamadas substituições, que a Ministra apresentou inicialmente repetindo até à saturação o objectivo primeiro de proteger os alunos de "perigos" de estarem desocupados (lembram-se?), essa titular da pasta da Educação, prepotente, não ouviu os professores. A maioria das escolas não tinha (não tem) condições de meros espaços para implementar núcleos de actividades efectivamente de reforço educativo e até motivadoras para determinados alunos, motivação que, essa sim, pode melhorar o insucesso escolar. Mas isso não convinha ouvir, pois implicava proporcionar tais recursos, sem os quais a medida se tornava uma antipedagogia. E, se os professores, como profissionais e únicos verdadeiros conhecedores do "terreno", não souberem o que é pedagogicamente eficaz e o que é aberração pedagógica, mais ninguém o saberá, pelo que a ausência de audição dos professores e o despreso por esta, a meu ver, não foi mais do que uma hipócrita atitude a esconder os verdadeiros objectivos da medida.
b) Com o arsenal de papelada burocrática que retirou qualquer espaço aos conselhos de turma e aos conselhos pedagógicos para, em equipa, discutirem e planearem o essencial, a ministra pretendeu à força diminuir as taxas de insucesso, nomeadamente, dificultando (quase proibindo) retenção de alunos, o que não é preocupação pelo efectivo sucesso, mas apenas por taxas fictícias. Vir agora falar da necessidade de trabalho de equipa, depois de ter colocado de parte os alertas e as queixas de muitos professores por terem ficado esvaziados os espaços de procura conjunta de estratégias devido ao enchimento dos mesmos de papelada, nomeadamente os conselhos de turma de avaliação logo no 1º Período, mais uma vez torna difícil não ver nisso uma "conversa" hipócrita.

O projecto de novo ECD é, indubitavelmente, antes de mais, uma medida economicista. Ora, uma coisa é serem necessárias medidas economicistas no estado em que está o país, outra é camuflar isso com outros (pseudo)argumentos.
No quadro dos dois exemplos que dei e após um ano de desprezo por pareceres competentes de professores e de campanha consentida contra eles, que resta pensar senão que, num irresponsável esquecimento de que, sem os docentes e contra eles, nada melhoraria, mais não houve que hipocrisia (ou má fé) a camuflar preocupações que, embora tenham que estar também presentes face à desastrosa situação económica-financeira do país, não foram causadas pelos professores, nem pelos mesmos ou pelas escolas foi causada a degradação do sistema de ensino derivada, sim, de sucessivas políticas de desresponsabilização, de experimentações imaturas, de mediocrização dos modelos de formação inicial e contínua dos docentes, de bloqueamento da autoridade e da acção punitiva-formativa (quando indispensável e integrada numa prática democrática e de estímulo) face à indisciplina, hoje generalizada em aspectos apelidados de moderados para distinguir de comportamentos extremos de agressão/violência. Como, também, a meu ver, mais não é do que uma conveniência hipócrita começar por uma tão forte (e até punitiva) avaliação dos professores, bem como das escolas (embora ela seja necessária), ao invés de começar por ter a coragem de mexer, por exemplo, em certas (muitas) formações de professores, medíocres e protegidas por interesses (bastantes) instalados em algumas (várias) instituições formadoras (inclusive, também, de formação contínua) - veja-se a acção de "reciclagem" em Matemática no 1º Ciclo, feita em grande parte pelos mesmos que ministraram deficientes formações - pelo que a tão falada coragem da Srª Ministra afigura-se-me bem limitada.

Para a pergunta do Miguel "Teremos razões para acreditar na boa fé negocial?"... venham então outras respostas, que a minha, até agora, continua a ser Não.

quinta-feira, junho 01, 2006

No Dia da Criança...

...Sem tempo, precisamente por estar ocupada com os netos, deixo apenas a "carta aos meus netos", de José Mário Branco, e uma imagem que já usei algures, mas que me parece oportuna.


Wait for Me!

Sophie Anderson